Poesias, crônicas, contos e dramaturgia escritas por: Geraldo Bernardo, tendo como cenário o sertão, seus personagens e mitos.


Home » » CHICO SOCÓ

CHICO SOCÓ

Escrito por : Geraldo Bernardo em sábado, 11 de fevereiro de 2012 | 1:47 AM



Ao amigo, caro leitor
Peço-lhe, preste atenção.
Vou lhe contar uma história,
Acontecida neste sertão.
Terra que amo com fervor,
Morada de Nosso Senhor,
Louvado seja este chão.

Foi nesta bela região
Que ocorreu cada episódio
Neste folheto narrado.
Histórias de amor e de ódio,
De bravura e estripulia,
De um sujeito que só sabia
Ser o mais alto no pódio.

Era forte como um córneo,
O cabra aqui retratado.
Quase dois metros, a altura,
De cor era meio agalegado.
Falava e pisava forte,
Dizia não temer a morte,
E que vivia desassombrado.

De Socó foi apelidado,
Por ser muito bom pescador.
Mas, seu nome era Francisco
Em honra ao santo protetor.
Francisco é nome comum
Pode ser dado a qualquer um,
E ser cultuado com louvor.

O saber popular fez o favor
De cada nome abreviar.
Quem era Francisco é Chico,
Tico também pode chamar,
Outro pode ser Tiquinho,
Há quem chame de Chiquinho,
É nome fácil de apelidar.

De Chico Socó vou falar.
Com muito orgulho e admiração.
Pois, conheci o sertanejo
Num momento de louvação.
Era uma noite de cantoria
Na bodega de minha tia
Quando o herói fez aparição.

Lembro-me que na ocasião,
Aconteceu algo incomum,
Que até parece mentira.
O leitor pergunte a qualquer um,
Que possa lhe confirmar
O que no verso vou lhe contar
É verdade não é zunzunzum.

Eu provo os fatos, um por um -
Dizia Chico, sempre ao falar.
Foi chegando com alarde,
À noite, naquele lugar,
Sem ter sido convidado,
Por isso veio bem preparado,
Trazia o que possas imaginar.

Dinheiro tinha, pra comprar
O mais que lhe fosse necessário.
Andava num carro possante,
Parecia mais um empresário.
Tinha cachaça da boa,
Vez por outra dizia uma loa,
E tirava graça do otário.

Não ligava pro horário.
Para ele tanto fazia,
Daquela vez, por exemplo,
Ficou três noites, dois dias.
Contando cada história,
Que ainda trago na memória,
Cada bravura e valentia.

Tanto falava, como ria.
Tornou-se o centro das atenções,
Sentado num tamborete,
Empolgava até multidões,
Com aquela sua falação.
Era metido a valentão
Pela vida, não dava “dez tões”,

Como se fala nestes sertões.
Seu nome fora escolhido,
Com muita antecedência,
Do seu tempo de nascido.
Por um bisavô que foi nobre
E acabou a vida pobre.
Mas, sobrenome comprido.

Antes mesmo de nascido
Já era bem empregado.
Num emprego bom, federal,
Que pelo pai foi arranjado.
Tinha três meses de idade,
Isso tudo é bem verdade,
Quando ele foi nomeado.

Pro cargo de Delegado.
Função esta que nunca exerceu.
Cedo começou a trabalhar,
Conta como isto se deu:
- Trabalhei como gerente
De um banco muito eficiente,
De um empresário judeu.

Doze anos de idade, tinha eu,
Tornei-me agente secreto.
Fui da CIA, KGB e SNI,
Como sempre fui esperto,
Conduzi enormes multidões,
Dei golpes, fiz revoluções.
Eu sempre estive alerto.

Profissão? A que tiver perto.
Respondia, se perguntavam.
Já fui maquinista de trem,
No tempo em que viajavam,
De Mossoró à Fortaleza,
Vendo o belo da natureza.
As pessoas logo chegavam.

Na Estação se aglomeravam.
Surgia a fumaça e o apito.
A criançada era toda euforia,
Achando tudo muito bonito.
Uma vez, numa viagem desta.
- É Chico Socó quem lhes atesta.
Falava alto, quase grito.

No corpo um... certo... agito,
Olhos! Ficavam arregalados.
Quando contava com fervor
Pros matutos embasbacados.
A famosa chuva de feijão.
Acontecida certa ocasião.
Deixando todos assombrados.

Alguns ficavam admirados,
Ouvindo Chico contar,
Que quando era tardezinha
O trem já estava pra chegar
À bela cidade de Iguatú,
Quando ocorreu o sururu.
A máquina teve de parar.

O tempo começou a fechar,
Ficou escuro como um breu,
O trem foi ficando devagar,
Até hoje ninguém entendeu.
Teve gente que desmaiou.
Foi o que Chico Socó contou
Do dia em que feijão choveu.

Mais de cincos sacas colheu
Daquele pequenino grão.
O caroço era bem branquinho
Porém, um olho cor de tição.
- Cunzinhadôzim que só a molesta,
Dava até pra servir em dia de festa.
Falava cheio de emoção.

Depois da chuva de feijão,
No trem ninguém quis seguir.
Chico e outro maquinista
Resolveram prosseguir.
E naquela mesma noite atroz
Decidiram que iam até Orós.
Na vaquejada se divertir.

Saíram cedinho sem o sol sair.
Chegaram àquela cidade,
Antes das quinze horas.
Nas farras da mocidade
Viviam buscando aventura
Não temiam qualquer criatura
Tinham o vigor da idade.

Foi quando sem fazer alarde,
Um estranho barulho surgiu.
Depois cresceu e agigantou-se.
Não era trovão, voz ou assobio.
Era rugido de água e terra
Vindo lá de trás da serra.
O vento seguia em rodopio.

Chico não sentia um arrepio.
Resolveu então descobrir
Que marmota era aquela.
Num instante resolveu subir
Pra ver o que havia no boqueirão.
Então viu a água, que em turbilhão
Subia para o céu até sumir.

O fenômeno que tava a assistir
Não era coisa assim tão normal.
Era ação de um grande arco-íris
Que numa força descomunal
Bebia a água do açude inteiro,
Deixando seco qual um terreiro.
Aquilo causou assombro total.

O companheiro passou mal
Fugiu numa enorme carreira
Chico seguiu seu destino
Numa vida aventureira.
Pelos sertões do nordeste
Tornou-se cabra da peste.
Uma lenda verdadeira.

Com ele não tem besteira.
É sério, não invento nem minto.
Muito falta para contar.
Como a história do pinto
Pilado com água limpa,
Forma um caldo supimpa
De um litro basta o quinto.

Mais amargo do que absinto
Pra curar é melhor que nada
Segundo receita do herói,
Para quem sofreu facada.
Com a poção curou mais de mil
Por estas bandas do Brasil.
E não é coisa inventada.

Quero contar ao camarada,
Com a verdade e clareza,
Como foi que Chico criou
A raça de boi holandesa.
Foi um avião de motor batido
Por este herói conduzido
Com cuidado e com destreza.

Quando vinha de Fortaleza
O motor morreu num instante,
Mas, como era destemido,
Planou num vôo bem rasante
Tingindo de preto o gado.
Foi este fato comprovado,
Este folheto é o comprovante.
Compartilhe este artigo :

Postar um comentário

Obrigado!

Video - Vale dos Dinossauros

Arquivo do blog

Seguidores

Facebook

Postagens populares

Tempo Agora

Total de visualizações

 
Suporte : Tradução e Edição | Johny Template | Mas Template
Copyright © 2013. Matuto Beradeiro - Todos os direitos reservados
Template Created by Creating Website Published by Mas Template
Tecnologia : Blogger