Poesias, crônicas, contos e dramaturgia escritas por: Geraldo Bernardo, tendo como cenário o sertão, seus personagens e mitos.


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ZÉ PIMBA, A HISTÓRIA DE UM DOIDO SABIDO. ESCUTADA E RECONTADA PELO DOIDO ARUPEMBA DE CÃINDA.

Escrito por : Geraldo Bernardo em quarta-feira, 10 de outubro de 2012 | 2:33 AM



A guisa de prefácio.

Arupemba de Cãinda eu sou,
não gosto de fazer alarde.
Nestas páginas que seguem
quero lhes contar como arde,
dá solavancos no peito,
um entalo desses de jeito,
ser poeta e fazer parte

deste povo, ter esta arte.
Ser poeta é ter vida nobre,
embora com atropelos.
Ter uma vida muito pobre,
porém, cheia de sabedoria.
É viver livre e sem agonia.
Pois, quem tem muito cobre,

embora muito lhe sobre,
ainda mais quer, quanto mais tem.
Vive escravo do possuir
e não divide com ninguém.
Este sim vive na pobreza.
Não invejo certa riqueza,
prefiro viver sem vintém.

Porque para ser alguém,
já comecei desde cedo.
No vasto reino da poesia,
metendo a cara sem medo
cumprindo a doce missão,
cumpro e trato com devoção
este meu divino enredo.

Canto o vento e o arvoredo,
o bem-te-vi e o vil gavião.
Toda fauna e flora juntas,
engalanando o meu sertão.
O homem pra ser lembrado,
num digo ser bajulado,
precisa coisa muita não.

Basta gostar de seu torrão,
amar as coisas da sua terra,
ser amigo, quando preciso,
tudo nisto se encerra.
Só com a força da amizade,
o sentimento de irmandade,
é que se vence esta guerra.

O orgulho tudo emperra:
afasta amigos e alegria;
deixa o sujeito solitário,
vida amarga; sem poesia.
É por isso que amigos eu faço,
e sigo sempre neste passo
toda hora e todo dia.

Não precisa estrepulia
pra escrever o que se sente.
Basta expressar no papel
aquilo que está na mente.
Seja: ensaio, romance, poesia,
folhetim ou dramaturgia,
crônica ou mesmo repente.

Falando de nossa gente,
a escrita tem mais volume,
mantêm a tradição cultural.
E, está destinada ao cume,
posição privilegiada,
será sempre homenageada
por quem defende o costume.

Ter fé é como ter bom estrume
que faz a lavoura crescer.
Tomo o sertão como musa,
dele faço o assunto, o escrever.
A alma livre e simples se esteia
em contar as coisas da aldeia,
já pude ouvir alguém dizer.

Vivo neste meu proceder.
Todo dia nova aventura,
que vem com o nascer do sol,
do qual sinto a boa quentura.
Deu-me o Deus da natureza
a quem devo toda a riqueza,
É só quem minhas dores cura.

Sinto-me feliz criatura,
em poder dividir contigo
uma história de cabra doido.
Preste a atenção no que digo,
tem muita leseira e invenção,
coisas deste meu sertão
que escutei dos “mais antigo”.

Tem mistério e tem perigo,
cheia de memória e tradição.
Essa história de Zé Pimba,
cabra velho de meu rincão,
é a mais pura e verdadeira,
digo sério sem  brincadeira,
é história de acabar paixão.

Pra deixar de “enrolação”,
vou partir “pros finalmente”.
Contar logo como se deu,
A desgraça do meu parente.
Quando ficou enamorado,
leso, doido e apaixonado,
cheio de suspiro carente.

Por Daquina de Zefa Crente
que era esposa de Zé Preá.
Veja doutor que nosso Deus,
quando resolve nos ensinar,
escreve por linhas tortas,
nos mostra várias portas,
nos dá o anzol e ensina pescar.

A história que vou lhe contar,
é coisa bem parecida.
Pois mostra como a tristeza,
pode ser algo bom na vida.
Com Zé Pimba isto aconteceu.
Coitado! Tanto que sofreu.
Porém, curou a ferida.
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