A guisa de prefácio.
Arupemba
de Cãinda eu sou,
não
gosto de fazer alarde.
Nestas
páginas que seguem
quero
lhes contar como arde,
dá
solavancos no peito,
um
entalo desses de jeito,
ser
poeta e fazer parte
deste
povo, ter esta arte.
Ser
poeta é ter vida nobre,
embora
com atropelos.
Ter
uma vida muito pobre,
porém,
cheia de sabedoria.
É
viver livre e sem agonia.
Pois,
quem tem muito cobre,
embora
muito lhe sobre,
ainda
mais quer, quanto mais tem.
Vive
escravo do possuir
e
não divide com ninguém.
Este
sim vive na pobreza.
Não
invejo certa riqueza,
prefiro
viver sem vintém.
Porque
para ser alguém,
já
comecei desde cedo.
No
vasto reino da poesia,
metendo
a cara sem medo
cumprindo
a doce missão,
cumpro
e trato com devoção
este
meu divino enredo.
Canto
o vento e o arvoredo,
o
bem-te-vi e o vil gavião.
Toda
fauna e flora juntas,
engalanando
o meu sertão.
O
homem pra ser lembrado,
num
digo ser bajulado,
precisa
coisa muita não.
Basta
gostar de seu torrão,
amar
as coisas da sua terra,
ser
amigo, quando preciso,
tudo
nisto se encerra.
Só
com a força da amizade,
o
sentimento de irmandade,
é
que se vence esta guerra.
O
orgulho tudo emperra:
afasta
amigos e alegria;
deixa
o sujeito solitário,
vida
amarga; sem poesia.
É
por isso que amigos eu faço,
e
sigo sempre neste passo
toda
hora e todo dia.
Não
precisa estrepulia
pra
escrever o que se sente.
Basta
expressar no papel
aquilo
que está na mente.
Seja:
ensaio, romance, poesia,
folhetim
ou dramaturgia,
crônica
ou mesmo repente.
Falando
de nossa gente,
a escrita tem mais volume,
mantêm
a tradição cultural.
E,
está destinada ao cume,
posição
privilegiada,
será
sempre homenageada
por
quem defende o costume.
Ter
fé é como ter bom estrume
que
faz a lavoura crescer.
Tomo
o sertão como musa,
dele
faço o assunto, o escrever.
A
alma livre e simples se esteia
em contar
as coisas da aldeia,
já
pude ouvir alguém dizer.
Vivo
neste meu proceder.
Todo
dia nova aventura,
que
vem com o nascer do sol,
do
qual sinto a boa quentura.
Deu-me
o Deus da natureza
a
quem devo toda a riqueza,
É só
quem minhas dores cura.
Sinto-me
feliz criatura,
em
poder dividir contigo
uma
história de cabra doido.
Preste
a atenção no que digo,
tem
muita leseira e invenção,
coisas
deste meu sertão
que
escutei dos “mais antigo”.
Tem
mistério e tem perigo,
cheia
de memória e tradição.
Essa
história de Zé Pimba,
cabra
velho de meu rincão,
é a
mais pura e verdadeira,
digo
sério sem brincadeira,
é história
de acabar paixão.
Pra
deixar de “enrolação”,
vou
partir “pros finalmente”.
Contar
logo como se deu,
A
desgraça do meu parente.
Quando
ficou enamorado,
leso,
doido e apaixonado,
cheio
de suspiro carente.
Por
Daquina de Zefa Crente
que
era esposa de Zé Preá.
Veja
doutor que nosso Deus,
quando
resolve nos ensinar,
escreve
por linhas tortas,
nos
mostra várias portas,
nos
dá o anzol e ensina pescar.
A
história que vou lhe contar,
é
coisa bem parecida.
Pois
mostra como a tristeza,
pode
ser algo bom na vida.
Com
Zé Pimba isto aconteceu.
Coitado!
Tanto que sofreu.
Porém,
curou a ferida.
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