Poesias, crônicas, contos e dramaturgia escritas por: Geraldo Bernardo, tendo como cenário o sertão, seus personagens e mitos.


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A DEDADA DE ANTONIO DE CÔCA

Escrito por : Geraldo Bernardo em terça-feira, 30 de dezembro de 2014 | 5:07 AM






A DEDADA DE ANTONIO DE CÔCA
Por Geraldo Bernardo


Digo-lhes! Ser defunto
é muito sacrificado.
Eu mesmo, outro dia, sofri
feito um cão condenado.
Fizeram-me cadáver,
quase que fui enterrado.

Olha! Como sou azarado.
Na fila da loteria,
dei um passamento, desmaiei.
Eu tava, mais de meio-dia,
com uma fome da moléstia,
quando me deu uma agonia.

Meus ouvidos zumbiam,
uma tontura desmedida
eu vi o mundo balançar –
– Ora! – não senti nem a caída.
Nunca havia acontecido
coisa assim na minha vida.

Quando acordei vi
Bastiana de Terroso,
terço na mão, olhava-me
de um jeito tão piedoso
orando com todo fervor:
- Oh! Pai, que és tão Glorioso,

ressuscitou um leproso,
acordai nosso filho amado!
Da queda até essa reza,
oito horas haviam passado.
E eu lá: parecia um “dindin”
numa mesa, estirado.

Como fosse sonhado,
eu fui espiando devagar,
Vi flores, as mãos encruzadas
e odor de naftalina no ar.
Ninguém reparava em mim,
as beatas só queriam rezar.

Tive tempo de observar:
uma vela de sete dias
e uma garrafa de café.
Fiz força e não me mexia,
tentei falar, quase gritar,
saiu só uma voz bem macia.

Oxe! Já é noite? Cadê o dia?
O que eu estou fazendo aqui?
Foi dizer e o povo correr,
estontear, tropeçar e cair.
Da Paz levou um “trupicão”,
desalinhou-se em Gabi.

Pior foi Pedro Bem-Te-Vi,
que no meio do “tirinete”,
quase que quebrou a perna.
Biu caiu do tamborete,
Luiz apagou a lamparina
e Bela achou um bracelete.

O povo saiu tal foguete
e eu fiquei só na sala
sob a luz de quatro velas.
Depois de reaver a fala
os parentes chegaram
benzendo-se cheios de: Valha!

Apertei um cigarro de palha
para contar minha história:
- Eu estava era dormindo,
trago um sonho na memória
que deixou- me encafifado
já na preparatória.

Uma lembrança aleatória,
menino novo voltei a ser.
Estavam me arrumando
não me perguntem o porquê.
Primeiro me banharam,
um esfrega com bucha até doer.

Nisso tudo, eu só podia ver.
Calçou-me as meias, Careca.
Um pedido pra São Pedro,
Rita de Zé Perneca
escreveu num bilhete
e pôs dentro de minha cueca.

Era um tal de “checa-checa”
até parecia um festival
de quem cuidava de mim.
Não é que Dadinha de Genival
Observou, de olho comprido,
meu mais secreto sinal.

Sonho que me pareceu real
Quando, todo “avexado”,
O velho Antonio de Côca
querendo me ver abotoado,
só tinha intenção de ajudar,
e me deixar bem arrumado.

Mas, tinha um dedo aloprado,
e, ainda pior, as unhas de cavador.
Só tem o dedo maior que ele
o filho de Seu Chico Nabor,
que é doutor proctologista
e dia desses me consultou.

Antonio de Côca enfiou
toda sua manzorra preta,
na hora de vestir a calça,
tentei até fazer careta,
não tenho medo de dizer
e registro até nas letras.

Doeu que fui à outro planeta,
quando o fruncho foi arrancado
na chincha, de uma só vez,
pelo dedo aloprado.
Extrair tumor na bunda,
no cru, creia, dói um bocado.


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