Digo-lhes! Ser defunto
é muito sacrificado.
Eu mesmo, outro dia, sofri
feito um cão condenado.
Fizeram-me cadáver,
quase que fui enterrado.
Olha! Como sou azarado.
Na fila da loteria,
dei um passamento, desmaiei.
Eu tava, mais de meio-dia,
com uma fome da moléstia,
quando me deu uma agonia.
Meus ouvidos zumbiam,
uma tontura desmedida
eu vi o mundo balançar –
– Ora! – não senti nem a caída.
Nunca havia acontecido
coisa assim na minha vida.
Quando acordei vi
Bastiana de Terroso,
terço na mão, olhava-me
de um jeito tão piedoso
orando com todo fervor:
- Oh!
Pai, que és tão Glorioso,
ressuscitou
um leproso,
acordai
nosso filho amado!
Da queda até essa reza,
oito horas haviam passado.
E eu lá: parecia um “dindin”
numa mesa, estirado.
Como fosse sonhado,
eu fui espiando devagar,
Vi flores, as mãos encruzadas
e odor de naftalina no ar.
Ninguém reparava em mim,
as beatas só queriam rezar.
Tive tempo de observar:
uma vela de sete dias
e uma garrafa de café.
Fiz força e não me mexia,
tentei falar, quase gritar,
saiu só uma voz bem macia.
– Oxe!
Já é noite? Cadê o dia?
O
que eu estou fazendo aqui?
Foi dizer e o povo correr,
estontear, tropeçar e cair.
Da Paz levou um “trupicão”,
desalinhou-se em Gabi.
Pior foi Pedro Bem-Te-Vi,
que no meio do “tirinete”,
quase que quebrou a perna.
Biu caiu do tamborete,
Luiz apagou a lamparina
e Bela achou um bracelete.
O povo saiu tal foguete
e eu fiquei só na sala
sob a luz de quatro velas.
Depois de reaver a fala
os parentes chegaram
benzendo-se cheios de: Valha!
Apertei um cigarro de palha
para contar minha história:
- Eu
estava era dormindo,
trago
um sonho na memória
que
deixou- me encafifado
já
na preparatória.
Uma
lembrança aleatória,
menino
novo voltei a ser.
Estavam
me arrumando
não
me perguntem o porquê.
Primeiro
me banharam,
um
esfrega com bucha até doer.
Nisso
tudo, eu só podia ver.
Calçou-me
as meias, Careca.
Um
pedido pra São Pedro,
Rita
de Zé Perneca
escreveu
num bilhete
e
pôs dentro de minha cueca.
Era
um tal de “checa-checa”
até
parecia um festival
de
quem cuidava de mim.
Não
é que Dadinha de Genival
Observou,
de olho comprido,
meu
mais secreto sinal.
Sonho
que me pareceu real
Quando,
todo “avexado”,
O
velho Antonio de Côca
querendo
me ver abotoado,
só tinha
intenção de ajudar,
e me
deixar bem arrumado.
Mas,
tinha um dedo aloprado,
e,
ainda pior, as unhas de cavador.
Só
tem o dedo maior que ele
o
filho de Seu Chico Nabor,
que
é doutor proctologista
e
dia desses me consultou.
Antonio
de Côca enfiou
toda
sua manzorra preta,
na
hora de vestir a calça,
tentei
até fazer careta,
não
tenho medo de dizer
e
registro até nas letras.
Doeu
que fui à outro planeta,
quando
o fruncho foi arrancado
na
chincha, de uma só vez,
pelo
dedo aloprado.
Extrair
tumor na bunda,
no
cru, creia, dói um bocado.
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