Na loja de material de
construção, toca o telefone do cliente encoberto por gôndolas e expositores. O toque
é um esturro orgasmático, pornô, em alto volume:
- Oi!
- ...
- E só pode ir se for agora?
- ...
- Tá bom.
De repente o suspeito dono do
celular de toque constrangedor pega a fila do caixa carregado de impaciência.
Conta quantos estão a sua
frente, confere a compra de todos, fiscaliza a lerdeza do funcionário
atendente. Pega o telefone e liga.
Enquanto aguarda a chamada vai
girando o corpo na fila até dar a volta completa e a voz cibernética pedir pra
deixar mensagem. Faz cara de irritado. Comenta ao léu:
- Léo tem telefone pra quê? Isso
me dá ódio.
Liga de novo. Léo atende.
- Léo, filho da puta, dormindo
uma hora dessa? Corre vai lá em casa, vá ligeiro. Que o eletricista tá indo lá
e Salete tá sozinha.
Todos se entreolham. Os funcionários
fingem normalidade.
- Tô na loja Léo, vim comprar
as coisas, vá lá, ligeiro, antes do eletricista chegar e encontrar Salete sozinha.
Os olhos aboticados da
professora, escondem a boca escancarada atrás da máscara. O volume da voz
aumenta:
- Confiar Léo? Naquela
cachorra? Vá logo filho da peste. Se aquele cabra chegar lá, encontrar Salete
sozinha, sei não... aquela minha mulher...
O ritmo diminui no interior da
loja. O cliente atendido saiu olhando para trás, quase esbarrou na moça que
fotografava um produto.
- Léo, uma vez cachorra,
sempre cachorra. E tem mais, quem faz um, faz um cento, basta ter cipó e tempo.
Vá lá agora, não deixe o eletricista chegar e encontrar Salete sozinha. Vou desligar,
chegou minha vez, vou sair daqui correndo também, mas, vá, agora!
Enquanto guardava o telefone
atrasou um pouco a fila, o atendente aproveitou para vingar-se do comentário lá
do começo e gritou:
- Olha a fila!
Meio atarantado, o suspeito
ciumento, foi falando enquanto era atendido:
- É Fila sim. Tem quase três
anos. Gorda, deve estar pesando uns trinta quilos, mas, quando avança em cima
de uma pessoa vai com quase cem quilos. E eu, rapaz, tô aqui aperreado, porque
o eletricista vai lá em casa começar um serviço e Salete, minha mulher, tá
sozinha, e aquela minha mulher, sei não, não consegue segurar a cachorra, que
agora tá com mania de avançar em cima das pessoas, anteontem quase mata o
encanador.
Terminou de pagar, pegou as
compras e saiu apressado, como se diz lá em nós: saiu que o rabo era um veio.
Ouve-se o grito do atendente:
- Olha a fila!
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