Poesias, crônicas, contos e dramaturgia escritas por: Geraldo Bernardo, tendo como cenário o sertão, seus personagens e mitos.


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A CHEGADA DO ARTOMÓVE NO ESTREITO DE MANÉ RUFINO

Escrito por : Geraldo Bernardo em domingo, 20 de fevereiro de 2011 | 8:41 AM

Por Geraldo Bernardo

No tempo que eu era menino,
houve certo dia um labacé,
rapaz foi tão grande o funaré
que Derci doido desapareceu
na manga de Antonio Agostinho,
numa correria desmedida,
a maior que já vi em minha vida.
A finada Maria Caco,
que era doida também, vinha afobada,
fumegando pelo cachimbo,
parecia uma chaminé de trem.
- Disseram que era um tal de oito ou nove,
mas pelo jeito aquilo deve ser
os seiscentos diabos ou a besta-fera.
Foi dizendo assim que passou pela janela.
João de Pedro que era um sujeito esperto,
foi olhar aquilo de perto.
Pois de longe a gente só percebia
uma nuvem de poeira, muita zoada e gritaria.
Até Ana Maria, moça muito recatada,
quando viu passar pela estrada
a máquina envenenada com aquele apito estridente,
teve um susto da molesta, pulou, peidou, gritou
e entrou de mata adentro.
Nonato de Manú,
ouvindo que aquele negócio se aproximava,
preparou a espingarda, uma carga bem caprichada,
de pólvora, chumbo e rolimã,
trancou dentro de casa,
mulher, menino, mãe e irmã
e como era matreiro, ficou montando mira,
por trás de um pereiro.
Quando avistou, era uma coisa reluzente
que cuspia fumaça,
e tinha dois olhos de vidro na frente.
Mas, o que lhe deu mais raiva
daquele bicho horrendo,
foi quando acabou vendo Seu Manoel Rufino
sendo carregado no espinhaço daquela criatura.
Nonato fez finca-pé,
mordeu o canto da boca e... tebei!
Atirou mesmo entre os olhos daquela diabrura.
Renato de Chico de Bento
que era metido a artista,
era quem vinha de motorista,
quase morreu de medo,
agarrou-se com São Pedro
e estancou o artomóve.
O coronel Mané Rufino,
aos berros, todo cheio de pólvora, gritava:
- Bando de povo beradeiro,
isso é apenas uma artomóve,
que mandei buscar no Rio de Janeiro.
Quem tinha fugido foi se chegando,
tinha gente arranhada, dos espinhos de jurema,
gente grande e gente pequena
olhava com desconfiança.
As galinhas se aquietaram,
algumas já estavam no poleiro,
bode, vaca, jumento e menino,
saíram logo para o terreiro,
só o coitado de Nonato foi quem levou a pior,
pois cansou o mocotó, de tanto apanhar algodão,
para pagar ao patrão,
o buraco no radiador e o conserto do motor.

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