Poesias, crônicas, contos e dramaturgia escritas por: Geraldo Bernardo, tendo como cenário o sertão, seus personagens e mitos.


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O PEDIDO.

Escrito por : Geraldo Bernardo em domingo, 27 de fevereiro de 2011 | 7:25 AM


por Geraldo Bernardo


Essa história se deu lá em São Bento,
num tempo já bem distante,
mas por muitos conhecida.
Conta de um pedido de casamento,
feito por Zé Gago,
a velho Tonho de Chico de Bento,
da mão de sua filha Mazé,
que não era muito bonita,
mas tinha pelos dezoito anos
algum encanto na vida.
Pois, bem! Era um sábado de manhã,
Velho Tonho, de faca na mão,
tirava o couro de uma marrã
quando foi surpreendido
com a chegada do sujeito:
branco que só uma tapioca,
tremendo que só vara verde,
o velho tomou nojo da criatura,
assim que viu que o safado,
segurava Mazé pela cintura.
-         Mazé, num já lhe disse que
não gosto de namoro afetado,
para namorar assim,
o cabra antes deve ser capado.
Falando daquele jeito
com aquela faca na mão,
o coitado do namorado pensou:
“de hoje não passo não”.
Encolheu-se todo e a noiva
o defendeu com prontidão.
-         Fique calmo meu pai,
o Zezinho veio lhe falar com educação,
o senhor tenha modos,
vivemos numa civilização.
O velho parou, pensou um pouco
e se dirigiu a Zé Gago:
-         Fale logo peste, qual a sua precisão?
Nisto Zé Gago tomou coragem,
se aprumou todo, se caqueou todo,
temperou a goela,
olhou para Mazé e deu uma piscadela.
-         Seu Totó... totó...
– foi só o que conseguiu falar.
Quando o velho ouviu aquela
lengalenga já foi dizendo:
-         Diga ligeiro sujeitinho xendenga,
caboré de loca. E fique sabendo
que totó é apelido de cachorro,
se continuar assim,
dou-lhe uma traulitada no toutiço
e com essa faca lhe arranco o piloro.
Quando Zé Gago ouviu aquilo
ficou ainda mais aperreado,
sentiu lhe fugir das fuças o sangue,
o fundo da calça ficou quente e molhado.
-         Tem.. tem.. tenha cáá... cáá...
calma, vavá... vavá vamos conversar.
Gaguejava o noivo assombrado.
-         Então fale trambelho, quer dizer
gagueja ente sem futuro.
Disse o velho todo abusado.
-         Eu quéqué... quéqué...
– repetia o pobre assustado.
Partindo para o noivo,
lá vem velho Tonho novamente:
-         Pare com esse quéqué sujeito demente,
senão lhe dou um murro na taba
do queixo que não lhe deixa nenhum dente.
Zé Gago suava, tremia, se espremia
e a palavra não saía.
-         Quéqué... quequé... quero cáá... cáá...
Velho Tonho segurou o sujeito pela abertura,
encostou-lhe a faca nos peitos,
olhou bem nos olhos
do cabra e berrou em toda altura.
-         Por acaso você quer cagar,
com toda essa sua espremedura?!
Sabendo que não tinha como escapar,
Zé Gago disse com a maior dificuldade:
-         Quéqué... quéquéro cáá... cáásar.
Nisto o velho empurrou o noivo
que se estatelou no chão,
chamou de dentro da casa sua velha
para testemunhar a ocasião.
-         Venha cá Chiquita,
ver como é que eu arranco
de uma só vez, de um cabra safado,
os dois cunhão.
Mazé, que estava calada,
pulou na frente do pai, brava,
que mais parecia vaca de bezerro novo.
-         Meu pai, se bulir com meu Zezinho,
não piso aqui em casa de novo,
Esse homem é meu lungrundungunzinho,
que arranjei para esposo.
Ouvindo toda esta latumia,
Dona Chiquita, saiu da cozinha
E percebendo o labacé,
tomou o pulso  daquela confusão dizendo:
-         Olhe aqui seu moço, se essa é sua decisão,
fique sabendo que essa lombriga
desengonçada, ainda mija na cama.
Acorda toda assanhada, cutuca a venta,
tira catota e come, tem bafo de bode fedorento,
ronca e peida enquanto dorme,
se você quiser casar se prepare
para o oficio de trabalhar de noite e de dia,
porque essa daí come,
de uma vez, só oito prato de angu.
Agora responda, ainda quer
uma mulher dessa pra tu?
-         Quéquéro.
respondeu ligeiramente Zé Gago.
Olhando para o marido,
Dona Chiquita disse naquela calmaria:
-         Antonio, além de gago e fanho
parece que  é doido também.
Tonho, pense bem, eu mesmo não casei
com tu quando ainda era quase uma criança.
Preste atenção meu velho,
você hoje quase não tem sustança,
aproveite esse cabra besta
pra lhe ajudar na roça,  botar água, tirar o leite.
Eu mesmo vou falar com Constança,
ela está velha e precisa de ajuda no pilão.
E foi assim que se deu o casamento
de Zé Gago com Mazé de Velho Tonho.
Quem andar pelo São Bento,
com certeza vai encontrar com o Gago.
Trabalha de sol a sol feito um jumento,
Mazé está muito bem –
é um filho na mão, um de colo e outro no bucho,
o mais velho de baladeira, procurando lambú
para ajudar no sustento.
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