Poesias, crônicas, contos e dramaturgia escritas por: Geraldo Bernardo, tendo como cenário o sertão, seus personagens e mitos.


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O PERIQUITO DE ZEFA.

Escrito por : Geraldo Bernardo em sábado, 26 de fevereiro de 2011 | 1:53 AM




por Geraldo Bernardo

Desde muito pequenina,
que Zefa tinha uma sina.
Criar passarinho para ela sempre foi rotina.
Não podia ver um pinto,
alisava o pinto, segurava o pinto,
beijava o pinto,
era tanta lengalenga com o pinto
que se o bicho já estivesse durinho,
 empenando, acabava definhando,
porque com pinto já se viu
 é bicho muito delicado,
mesmo estando grandinho,
se for muito amulegado,
o coitado acaba morrendo
todo mole e arrepiado.
Zefa foi crescendo sempre muito caridosa,
cuidando de tudo quanto era bicho
 com eles levando prosa.
 Um dia ganhou de presente uma rola,
uma dessas rolinhas caldo de feijão,
que foi dada pelo enteado de Damião,
para Zefa foi um colosso, conversava com a rola,
alisava a rola e pra completar seu moço,
Zefa levava a rola pra tudo quanto era lugar,
até na hora de se deitar,
a rola seguia com Zefa pra cama.
Mas, como ela não criava a bichinha em gaiola,
 um dia quando Zefa estava na escola
a rola de Zefa foi embora.
Para a coitada foi uma grande desilusão,
depois disso, quando alguém
lhe oferecia qualquer bicho,
ela dizia quero não.
Assim se passou algum tempo
Zefa naquele desalento,
pôs-se moça e nunca mais quis saber
de bicho de estimação.
 Deixa que Zé de Natércio,
um moço muito faceiro,
dali mesmo do lugar
que tinha ido morar no Rio de Janeiro,
certo dia voltou e com Zefa se encontrou,
falou com ela e nada,
perguntou então a um amigo camarada,
o porquê daquela moça tão rubeculosa
ter a cara tão amarrada.
É que ela tem uma grande desilusão,
a coitada gostava muito de bicho,
mas não pode pôr a mão.
A última experiência foi uma rola,
 do entediado de Damião, que voou,
foi s’imbora e Zefa ficou nessa solidão“.
Zé de Natércio, motorista de caminhão,
querendo se aproximar da moça,
 pôs-se logo a pensar e um dia
quando viajou para o Maranhão,
trouxe de lá um presentinho para Zefa,
um novo bicho de estimação.
Assim que voltou foi logo entregar o presente,
Zefa se fingindo que não estava contente,
não queria nem receber,
mas Zé Natércio fez tanta insistência
que Zefa resolveu partir
para mais uma experiência.
O presente era um periquito ainda novinho,
mas era bonito o danadinho,
Zefa logo improvisou um ninho
e depois disso passava o dia suspirando,
quando não estava ocupada com a luta da casa,
era do periquito que Zefa se ocupava,
escovava o periquito,
perfumava o periquito,
pode acreditar companheiro,
o periquito de Zefa cheirava o tempo inteiro.
A certa altura quando o bicho
já tinha criado penas,
 não era mais aquela penugem
era um periquito imponente,
Zefa alisava o periquito e dizia:
menino parece até gente.
Mas, como ninguém foge do destino,
uma noite por arte do coisa ruim,
uma cobra corre campo,
deslizou por entre as frestas,
 entrou na casa de Zefa
e acabou com todo seu encanto.
Não gosto nem imaginar
como foi àquela luta desigual,
o periquito de Zefa tava lá quietinho,
foi só a cobra chegar,
o bicho começou a se ouriçar.
 Zefa coitada dormia e não via
a cobra se enroscando no seu periquito,
e cobra é bicho traiçoeiro,
quando pega só solta no suspiro derradeiro.
Depois fiquei sabendo que naquela noite
Zefa teve um pesadelo,
sonhou que uma cobra grande
devorara seu periquito,
era tanto alarido naquele sonho medonho,
a cobra a arrochando o periquito,
o coitadinho depenando, tanto que se debatia
e a malvada da cobra sufocando,
o periquito já todo suado, abria o bico,
as asas e a cobra lhe apertando,
o periquito arrepiando e a cobra só esperando
o bicho ficar pronto para ser devorado.
Nisto Zefa saltou da cama,
num pulo, muito assustada,
foi olhar lá na cozinha seu periquito estimado,
quando acendeu a lamparina,
viu uma cena cruel, engoliu aquela visão
como fosse um grande gole de fel,
seu periquito todo melado, morto coitado,
com o bico arreganhado.
Pois não é que a peste da cobra,
depois de matou o coitado,
 na hora engolir deve ter se assustado,
com a lamparina acesa,
e deixou ali em cima da mesa
o periquito de Zefa
sem vida coitado, abatido, todo arrebentado.
 Desse dia em diante,
Zefa não quer mais saber de passarinho,
 não gosta mais de pinto, de rola,
só ainda lembra do periquito
pela cobra assassinado.


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