Poesias, crônicas, contos e dramaturgia escritas por: Geraldo Bernardo, tendo como cenário o sertão, seus personagens e mitos.


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A QUENGA DE MELADO.

Escrito por : Geraldo Bernardo em quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011 | 7:23 AM

Por Geraldo Bernardo

Melado era um sujeito
de quase dois metros de altura,
de uma só vez comia uma rapadura.
Tudo naquele homem era grande e exagerado,
um cabra meio sarará, muito do trabalhador,
tomador de cachaça e metido a namorador.
Quando era rapaz, se metia em confusão,
em qualquer forró invadia o pavilhão
com seu cavalo alazão e ficando dançando só.
Mas, veio o tempo e o destino,
e quando menos percebeu,
estava casado o coitado,
com o bucho quebrado
e a casa cheia de menino.
Morando na velha casa do finado Adonias,
não é que chegou um dia,
para ali perto morar, uma galega sarará
que gostava muito de cantar.
Quando dava manhã cedo e a galega saía,
com a lata pra botar água da cacimba depois do reservo.
Melado saía também,
inventava de ir buscar o bezerro da vaca Térem.
Deixa que nesse vaivém,
Otilia de Antonio Cosme,
que é uma mulher que pouco dorme,
acordou cedo também,
fez de manhãzinha o café,
depois foi acordar as galinhas
jogando no terreiro o xerém,
olhou em busca do riacho
onde ficava a cacimba do reservo,
e quase que morre de medo
com o moído que viu.
Era um fungado diferente,
uma zoada, com certeza de gente,
foi quando reparou bem e viu ali na sua frente,
sem fôlego e muito afoita,
acocorada atrás da moita,
a galega cantadeira,
e com a cara mais deslavada,
com um sorriso maroto,
estava também o escroto
do Melado sem vergonha.
Quando Otilia viu aquilo
e percebendo a cara dos dois,
não deixou para depois, falou no mesmo instante:
- Vocês deviam ter menos descaramento,
onde já se viu Melado, descumprir o juramento,
que fez nos pés do padre?
Agora como fica a comadre?
Sendo sabedora de uma coisa dessas?
Mesmo surpreendido Melado emendou a conversa:
-         História é essa Dona Otilia?
Assunto mais sem cabimento,
não me faça passar um constrangimento.
Só estou ajudando a moça,
que está muito aperreada,
não é que perdeu coitada,
um brinco que ganhou de presente.
Eu como sou muito decente,
me considero cavalheiro,
ia buscar o bezerro, porém achei que primeiro,
que devia ajudar esta moça
a encontrar sua jóia de estimação.
Ora, a senhora me faz passar uma decepção!
Mas de nada adiantou.
Não sei quantas vezes o Melado explicou,
porém  Otilia não acreditava,
batia o pé e afirmava
que a comadre ia tomar conhecimento
daquela sem-vergonhice:
-         Porque compadre Melado,
como eu posso acreditar
nas palavras que você  me diz,
se está aqui diante do meu nariz,
uma moça com a saia arriada e a blusa desabotoada
e o senhor ainda me diz
que está procurando um brinco?

-         Pra ver se não caiu
por dentro da roupa dela.
Pelo menos foi o que a moça sentiu,
parece que depois o danado escapuliu,
da blusa para a saia, enfiou-se pela grama
e agora estamos aqui tateando.
Venha cá!
Nos ajude também, vá procurando.
Disse Melado tentando remendar.
Porém não tinha mais jeito.
Estava criado o fuxico.
Otilia disse para Antonio do velho Chico
que falou para Gabriel, Marco de Otoniel
foi quem disse a Izaías.
Quando soube, Seu Matias
quase que teve um colapso.
Pois, pensou que era sua filha Rosa
com quem Melado gostava de ter prosa.
Antonio de Bela contou para Raimundão,
que disse em segredo a Damião
casado com Rita.
E Zé de Bonita, disse que não queria
saber de conversa de amigo.
Uma surra de pinhão
foi a receita que deram a esposa,
Melado, mais desconfiado que raposa acuada,
mudou-se para a Picada, numa noite sem avisar,
a galega sarará sumiu do trecho também,
dizem que foi morar na rua,
numa casa toda mobiliada,
que só vive bem arrumada,
de perfume e trancelim,
para ela não tem tempo ruim,
tudo que possui é de primeira
e quando chega a sexta-feira,
a galega se pinta toda,
liga a radiola em toda altura,
bota cadeira do lado de fora
e quando dá mais ou menos sete horas,
que a rua está meio escura
aparece uma certa criatura,
entra pela porta do lado,
alguém bem ambientado,
que não deve ser outro convidado
senão o galego Melado.
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