De
Geraldo Bernardo.
Ah! Se eu fosse boi.
Não deixava me pegarem,
as patas amarrarem
e com o ferro quente me queimarem.
Seu eu fosse boi,
desde garrote era desmamado,
só aceitava peito se fosse para apojar
(esse negócio de mamar educado fica pra quem é casado).
Se eu fosse boi,
desde novilhote que endurecia o cangote.
Ia viver pelos matos,
comendo capim nativo
e dormindo meio furtivo
nas ribanceiras lá do riacho.
Para me pegar,
precisaria de mais de um cabra macho,
pois quando eu pegasse
no vazio de um vaqueiro,
dava chifrada de derrubar o fato inteiro
(talvez não fizesse isto),
mas se fosse um coronezim
destes metido a atrevido
comigo ele saía cantando fino
correndo em busca de marido.
Ah! Se eu fosse um bicho bruto,
de ponta bem afiada,
as orelhas temperadas,
com o assobio do tempo.
Eu não ficava todo momento tendo que pedir desculpas,
se o stress da labuta me deixasse injuriado,
saía era escruvitiando pelo campo
e ai de quem eu encontrasse desavisado.
Ah! Eu queria ter nascido boi.
Não destes que são domados,
têm os narizes perfurados e vivem puxando arados.
Eu queria ser boi brabo,
pelas matas viver e no dia de morrer
dar um mugido comprido,
mais forte que dolorido,
saudando as almas deste mundo.
Seu boi eu fosse,
não tinha quem me castrasse.
Você amigo casse,
qual dos homens de verdade
gostaria que lhe capassem.
Eu ia andar era solto,
em novilhota fazendo montaria,
pelo menos umas quatro diferente todo dia.
E não caía em armadilha,
pois tantos seriam os garrotes de minha cria
que eu seria o pai de uma nova geração de vacaria.
Boi eu sendo
(Ai! Quem me dera!) ia viver livre todo tempo,
nem que fosse só uma era.
Mas, jamais ia servir pra ser gado de pastóra.
Eu enfrentava os xiquexiques nos peitos,
as rosetas de arame e fugia sem demora.
Quando eu crescer e papai do céu vir me buscar,
vou pedir Àquele coroné esclerosado,
que me deixe na próxima vez voltar como gado.
Não quero ser rês que vive batendo chocalho,
feito cartão de ponto,
quero já vir pronto pra ser o chefe do gado.
Esse negócio de só balançar a cabeça
é pra quem não tem chifre,
coisa de cabra frouxo e garrote amansado.
Eu tenho cá pensado um jeito diferente,
seu eu não for independente,
viver como a minha cabeça diz,
nem ligo, poso até ser preso
e condenado pelo juiz por qualquer besteira.
Posso ser até levar um balaço
e morrer esticado numa esteira.
Homem!
Pra que essa leseira de voltar a
esse mundo novamente cabra macho,
que é obrigado a trocar o riacho pela piscina
só pra fazer o gosto dessas meninas?
Deus que me ponha nu sem nenhuma vergonha,
pela relva da campina, cumprindo a bela sina,
sendo um bruto boi macho.
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Essa è genial...confesso que fui induzido a pensar alguma coisa que no final me foi mostrado completamente diferente.
Parabèns, caro companheiro.
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Obrigado!