De Geraldo Bernardo
Um matuto do sertão
Cheio de manha e esperteza,
Lá da “Cabeça do Porco”,
Dos cafundós de Princesa.
Virou afamado jurista
De muita lábia e destreza.
Mantinha sempre acesa
Sua verve de advogado,
Por todos muito conhecida.
Convencia qualquer jurado.
Na tribuna era o melhor,
Estava sempre preparado.
Certo dia ficou acuado
Com o argumento da acusação,
Um promotor com astúcia
Deixou-lhe em má situação.
Foi então, que num estalo,
E, no fervor da argumentação,
Desviou, do promotor, a atenção.
Chamou-o de abichornado.
Pois, era palavra difícil
De saber o significado.
E, para enfurecê-lo mais
Disse: - O senhor abichornado
Deixa-me, como advogado,
Receoso da profissão.
Pois, devemos estar cientes,
Na defesa ou acusação,
Que abichornar-se atrapalha
Toda nossa falação.
Pra quê?! O homem virou leão.
- Isto é falta de respeito.
O doutor retire o que disse.
Pois, não tenho esse defeito.
Nunca fui afrescalhado.
Agora o senhor... tem jeito.
O estrago estava feito.
E o promotor encurralado
Sem conhecer a palavra,
Com o rosto avermelhado –
Suava, xingava e gritava –
Contra o matuto advogado.
Calmo e bem ponderado,
Com certo ar de estranheza,
Abriu um grande dicionário
O advogado de Princesa.
Dizendo: - Desculpe, doutor,
A nossa língua portuguesa.
Vem do Lácio esta beleza
E nos deixa encabulado.
Ofender não foi minha intenção,
Ao chamar-lhe abichornado.
Nesta palavra quis dizer
Que o senhor ficou vexado.
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