Minha cara...
De sono tenho tido muito pouco, fico
lembrando seu sorriso, quando te pegava por trás. Enfim, havia muito brilho em
seus olhos, e aquele brinco-corrente de corações, quando subimos o Cristo,
redenção de minha alma, fui de novo seu par.
Dizia, Dora tenha cuidado com tuas
amizades, quem era aquela menina? Branquinha, sei que tinha sardas e usava
boina, sensual. De novo, riso maroto e aquele sinal, lascivo.
Dora, Dora... hoje, deve chover, é seu
aniversário, lembro quando nos banhamos na volta da escola e você me agarrou
embaixo daquela calha, como queimava, ardia em brasa, uma febre que começou a
devorar-me pela boca, nunca imaginei Dora, que ganhasse maior presente que o
teu corpo febril.
O tempo sumiu com você, levou seu decote,
nossas conversas ao telefone, sempre secretas, eróticas, debochadas. O deboche
de cantadas pornográficas que falava ao teu ouviu bolinando teus mamilos.
Cravos, espinhas, tudo isto, guardo. O sorvete de cajá, manchou o sutiã de
rendas, nunca gostei que usasse, lembra?
As marcas, nunca pude esconder, gravaram-se
na pele e na alma, quando mais lembrei-me delas, estava na lama, no pó, era a
matéria prima de meus sonhos. Aconteceu nos dias mais escuros, quando solucei,
uma terrível lembrança, minha cabeça batia na parede, em fogo a raiva,
engoliu-me as palavras, era um recado da separação.
A garoa guiou seus passos em ruas
inadvertidas, banhadas pelas buzinas metropolitanas, era inverno.
Sua carta está no porão, dentro daquela
caixa, as outras jóias também são suas, use-as. Só espero encontrá-la de bom
humor. Adeus.
De sua,
Scarlet.
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