Poesias, crônicas, contos e dramaturgia escritas por: Geraldo Bernardo, tendo como cenário o sertão, seus personagens e mitos.


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A ENCOBERTA A história de uma santa sem altar. (CAPÍTULO UM) - A GRANDE MORDIDA.

Escrito por : Geraldo Bernardo em sábado, 28 de setembro de 2013 | 7:33 AM






A ENCOBERTA 
A história de uma santa sem altar.
(CAPÍTULO UM)
                                                           Por: Geraldo Bernardo


A GRANDE MORDIDA.





Amigo leitor, preste atenção

Nesta história atrapalhada.

Deu-se o acontecido no sertão,

De presepada e embrulhada.

Com licença,vou contar,

A fama da santa sem altar,

Que será sempre lembrada.



Não sei dizer camarada

A data do épico ocorrido,

Nos livros não se fala mais

O poeta não deixou esquecido.

Em versos ficou registrado

Fato que agora é narrado.

Pra sempre ser conhecido



Lugar de nome comprido,

Carrumbamba é chamada,

A mais bela cidade da região,

Gente boa é sua matutada

Porém ali há um grande defeito:

Nunca elegeu um prefeito.

Que quisesse fazer nada.



Sua sina é triste e azarada

Desde a fundação do lugar

Há duas famílias disputando

Ao povo,só cabe votar

Naquela gente gananciosa,

De prática tão horrorosa,

Que faz a cidade definhar.



Ali grande necessidade há,

Verbas somem sem ninguém ver

O retrato da precariedade,

Na escola mal ensina a ler.

Nesse cenário se dá a história

Da Quase-Santa e sua glória,

Em quem todo mundo crê.



Fique o senhor a saber,

Quem era a nossa heroína,

Primeira dama do lugar,

Que quando moça-menina

Distante tinha ido morar.

Voltou e dizia: - É pra ficar!

Vim cumprir minha sina!



A família dos “Mallinna”,

Sempre tiveram tradição,

Eram craques na política.

Até “na base do tapetão”,

Na justiça ou na intriga,

Na malicia ou na briga,

Eles viravam situação.







A Santa tinha adoração

Pelo marido,cabra sabido,

Herdeiro de coronel.

Andava bem vestido,

Com papo de “advoguês”,

Como quem quer freguês,

Pra “converseiro” comprido.



Estava a Dama e seu querido

No poder encastelados.

Havia, um “porém”a resolver,

Calar os bestas, os malfadados,

Radialistas da oposição.

Um, tal, Urubu do Pescoção,

Era dos tais, o mais danado.



Vivia ele “mancomunado”

Com a cambada de oposição,

Babando microfones,

Com baixarias e palavrão.

Chacoteava o prefeito,

Sempre arranjava um jeito

Para deixá-lo rente ao chão.



Aquilo gerou confusão.

A Santa ficou muito braba.

Num aperreio que só vendo

Dizia: - Eu pego esse cabra,

Ah! Eu pego aquele sarará,

A ficha dele vou puxar,

Ele que não queira que eu abra



Um processo a mais de sobra,

E botar-lhe atrás das grades.

Um vaqueiro feito locutor!

Que fica todas as tardes –

Ah! Espeto de bate-bucha,

Caroço de espiga murcha –

Fica fazendo alardes.



Nunca fomos covardes!

Dou-lhe uma esculhambação.

Hoje eu mostro que a casa cai.

Não vou aceitar essa má falação

Do “lambe-botas” de meu avô,

Que fez da peste vereador,

De volta recebeu traição.



Também! Urubu do Pescoção!

Pois é! Um enterro não perdia,

Foi assim que ganhou o apelido.

Muita vela de sete dias,

Coroas, caixão e rosário

Pra ele foi necessário

Ter sido eleito um dia.



A desfeita a Santa não engolia.

Deixa que fez besteira,

Num rompante raivoso,

Certo dia de quarta-feira,

O locutor, na avacalhação:

- O gestor é mentiroso e ladrão,

Caloteiro de primeira.



Seu governo é uma bagaceira –

Bradava como ninguém –

O secretariado meu Deus,

Corre! Não fica ninguém,

Se gritar cabra safado.

Todos querem um bocado

Do que a prefeitura tem.



Audiência pra mais de cem

Aquele programa tinha

Era aquela expectativa,

Desde briga de vizinha,

A abandono de marido.

Nada ficava escondido,

Coisa de gente mesquinha.



O rádio traz o som da campainha

Do telefone a tocar.

- Pois não, com quem falo? Alô!

Mudo. Fez-se um suspense no ar.

De repente, num só supetão!

Uma voz, sem identificação,

Firme, põe-se a esbravejar:



- Vou tirar essa rádio do ar!

Pra falar de meu marido,

Limpe sua boca fedida,

Seu papagaio do cu roído.

O radialista meio a gaguejar:

- Primeira-dama? Vai falar?

Do outro lado: - Seu atrevido!




Feche seu bico comprido

Pra nossa administração.

O que você é muito é invejoso,

Tem falsidade e ingratidão.

Pois venha tomar meu lugar!

Aprenda de vez a me respeitar.

Tomando pé da ocasião,



E utilizando a razão,

Pôs-se a falar, o locutor:

- Primeiramente a senhora,

Respeite-me! Faça o favor.

Saiba! Não sou seu capacho,

Aqui fala um cabra macho!

No mesmo tom retrucou,



 A Estimada com fervor:

- Um cabra fraco feito tu!

Que cospe o tacho onde comeu.

Num vale os pratos de angu

Que a minha família te deu.

Foi o meu avô quem te ergueu!

Hoje vai ter sururu,



Bicho da cara de cu!

Ela era daquele jeito,

Ia do chique a baixaria.

Bom! Cada um tem seu defeito.

Num fôlego, dizia das suas,

Deixando ecoar pelas ruas,

Em seu sonar rarefeito,



Mágoas que tinha no peito.

O que aconteceu em seguida,

Saiu até na televisão,

Sem mostrar a cena ocorrida.

Mas, é fato pra ser narrado,

Conto como me foi contado,

História bem conhecida:



Com sua língua comprida,

O Pescoção passou a esculhambar:

- Seu marido é bola murcha!

Foi o que conseguiu falar.

Aquela que é chamada Santa,

Firme como quem não se espanta,

Na bucha, diz sem titubear:



- É bem melhor você parar,

Com toda essa presepada.

Você não é, nem foi, locutor

Não é homem, nem sabe nada.

Vou fechar essa merda agora,

Chego “loguinho”, sem demora.

Dizia a santa Enfezada.



Altiva e determinada,

Vencedora da contenda,

Desligou o telefone.

Como não há ponto sem emenda

O locutor, falou na bucha:

- Ora! Vá tomar uma boa ducha!

Se não a ofendi, não me ofenda.



Agora escute e compreenda:

Não temo sua arrogância,

Nem esse prefeitinho merda.

E se partir pra violência.

Venha! Conhecer cabra macho,

Só assim sossega o facho.

De vocês quero distância,

 

Fui explorado desde a infância,

Desde novo fui lavrador,

Trabalhei como escravo,

Pra esse povo explorador.

E, vamos parar bate-boca

Não converso com uma louca.

Disse exaltado, o locutor.



A cidade toda parou

Todos queriam ouvir aqueles dois

Subiam o volume do rádio,

Deixando a lida pra depois,

Em torno do rádio ligado

O povo estava preparado -

Esqueceram o feijão, o arroz –



Não há registro de quem se opôs

Que num ringue se formasse,

Uma questão de política.

E deu-se que, antes que acabasse

O programa daquele dia,

Às pressas, a escada subia,

A dama, sem nenhuma classe.



Muito antes que reparasse,

O Urubu do Pescoção.

Ao lado de dois guarda-costas,

Surgia a dama de supetão.

Veja leitor, o destino,

Como é matreiro e ladino.

De repente ouve-se um avião,



Aquele ronco era a anunciação,

Que a cidade precisava,

Para ter toda a certeza:

Era o prefeito que chegava!

Fazendo “V”, todo risonho,

Prometia realizar sonhos

E, o povo se aglomerava.



Um babão logo chegava,

No ouvido do prefeito,

O safado cochichava:

- O senhor precisa dar um jeito!

Atacou a honra da doutora -

Ficou louca, quase estoura –

Fofocava o sujeito.



Gritou firme, a mão no peito:

- Parem com esse foguetório!

O garboso e airoso alcaide.

De repente um falatório.

Saiu feito faísca em estopim,

Girou feito rosca sem fim:

- Isto vai acabar em velório.



 O delegado, Seu Libório,

Com seu par de ajudantes,

Partiram pra emissora.

Na famosa “Amada Amante”,

Apelido da viatura,

Que gritava a toda altura,

Com sua sirene alarmante.



Naquele mesmo instante,

Bravo, esturrando feito leão:

- Vou dar inda agora o remédio,

A esse verme falastrão.

Falava todo encarnado,

Feito um doido, transtornado,

O prefeito. Chegando ao prédio,



Ao qual todos faziam assédio.

Pois, fizeram romaria,

Para o estúdio da rádio.

Fechou banco, bar e padaria.

Pastor, padre e sacristão,

Esqueciam fé ou devoção.

Todos queriam pancadaria.



Todo mundo crente que ia

Ter briga de foice e bala.

A rua respirava desgraça.

De repente a turba cala.

De ouvidos arregaçados,

Penca de olhos esbugalhados

No rumo da única sala,



De onde se ouve uma fala:

- Cabra! De hoje tu num passa!

É a voz daquela que é adorada.

- A senhora ainda me ameaça?

Fala fraco o radialista.

E, antes que a dama insista,

Já entra fazendo arruaça,



O prefeito daquela praça.

Disse: - Hoje tem confusão!

Deu um soco no controlista,

Que se valeu dum balcão

E logo se escondeu embaixo.

- Olhe que sou cabra macho.

Rastro de cobra? Vi, ainda não!



A turma “dos separa”, “vá não”,

Impediram haver grande mal!

Pois, um furo de pneu atrasou,

O destacamento policial.

E a primeira dama, surtada,

Deu uma vigorosa dentada

Nos nervos, da região radial,

 

Do locutor. Que afinal,

Era a arma que ele tanto queria.

Bem alto, para todos, gritou:

- Cadê tua valentia!

Soltando o braço gritava.

Ao mesmo instante que atacava

O locutor, para o marido sorria.



E pra aumentar a patifaria,

Na sua ânsia de tortura,

A primeira dama falou:

- Acabem com essa criatura.

O prefeito ainda protestou:

- Não digam que fui eu quem mandou.

Mas, ela gritou a toda altura:



- Estás afrouxando criatura?

Seja homem, tome uma atitude,

Num seja um frouxo, um... mofino!

Não sei pra quê tanta saúde?

Tudo isto foi transmitido,

Pois um microfone esquecido,

Por medo ou por atitude,



Divulgou tudo, bem amiúde,

Detalhes do acontecimento.

Exaltada: - Você é um fuleiro,

Um safado, mau elemento.

Irada, gritavaaquela dama.

Como o brio sempre reclama,

Traz-nos respostas no vento,



Como fosse o ultimo rebento.

Disse o pobre locutor:

- A senhora esbarre aí! Se aquiete!

Porém ela, com grande furor –

Parecendo chispas lançar –

Resolveu então atacar.

Seu olhar canino logo mirou,



O outro braço que ele esticou.

O controlista quis levantar,

Também foi agatanhado.

A coisa teve quase a piorar

Quando, em meio a barafunda,

O prefeito quase que afunda,

Num baque, o próprio maxilar.



Na tentativa de chutar

A bunda do acuado locutor

Escorregou e no chão caiu.

Antes esbarrou num birô,

Quebrando queixo e dentes,

Dando a entender aos presentes

Que ele também apanhou.

 

Com atraso a policia chegou.

Mas, o casal já havia fugido

Deixando os agredidos no chão.

O povo ficou meio aturdido

Alguns vaiavam, outros aplaudiam,

- O que aconteceu?!!! - Não entendiam.

Pois, o prédio tava impedido,



Senão o povo havia invadido.

A polícia pôs guarnição

No estúdio e saíram a procurar

Os culpados pela agressão.

Uma ambulância foi chamada,

A dupla ferida internada.

Piorou ainda mais a confusão



Quando se notou a infecção,

Que aumentou, da ferida

Dos dois que foram atacados.

Pois, não é que a tal mordida

Passou a ficar inflamada -

Da mesma maneira a unhada -

Causando risco de vida.



O prefeito e sua Querida

Sentiam-se realizados,

Estavam com a honra lavada.

E, logo se viram cercados.

Dentro do seu próprio lar,

Ninguém podia sair ou entrar.

Reforços foram chamados,



Mais de oitenta soldados,

De escopeta e camburão,

Tentavam a todo custo,

Fazer qualquer negociação

Com o casal que estava ilhado.

Na rua fez-se um aglomerado

O povo, o rádio e a televisão.



Piorou ainda mais a situação,

Os agredidos passaram mal

Foram transferidos de UTI

Às pressas, para a capital.

Porém,ao casal sitiado,

Chegava um comunicado,

Através da força policial,



Era um mandado judicial,

Deviam ir depor no distrito.

Aquilo causou novo furor,

A Inominada deu um grito:

- Essa justiça bufeira

Que não tem eira nem beira.

Eu dou um doce, um pirulito



A quem se achar muito bonito

E tente na minha casa entrar.

Sem poder cumprir o mandado,

O agente tentou negociar.

Mas, dali não arredava o pé,

Nem o prefeito nem a mulher.

Sem uma solução encontrar,



Um impasse permaneceu no ar.

O povo e a polícia acamparam

Defronte a mansão do casal,

Logo três dias se passaram:

O primeiro, só esculhambação;

O segundo de negociação;

Por fim a um acordo chegaram.



Os soldados se retiraram,

O casal deu seu depoimento.

Acabaram com a pantomima,

Sem o menor constrangimento.

Um inquérito foi instaurado,

Para quem estava internado

Houve restabelecimento.



Mas, aquele acontecimento

Ainda causou muito bode.

Era tema para oposição,

A imprensa quase que implode

Com a imagem da grande dama.

Porém o caso trouxe-lhe fama

Que entre a populaça explode.



- Qual o poder que não pode?

Era o que o povo dizia na rua.

Os bufões do ato burlesco,

Ficaram cada um na sua.

O silêncio dos agredidos

Deixou a todos comovidos –

Pela humildade nua e crua.



Quando surra e dinheiro atua,

Resolve se não for pouco.

Este adágio tão popular,

Dito por quem é poeta ou louco,

É próprio para resumir

Tudo que se pode concluir,

Sobre quem sofreu soco.



Como todo sofrer é pouco

E não falta é gente gaiata,

Começou aquele zunzunzum:

“A mulher morde mais que rata,

A oposição deve respeitar,

E temer a força do seu molar

E o vírus de sua agatanhada’’



Esta quadra foi cantada

Por dezenas de gerações.

Na boca dos cantadores

Dos mais distantes rincões.

Dando grande notoriedade

A primeira-dama da cidade.

À ela não se dedicam sermões,



Não há milagres, sonhos ou orações.

Muito ainda haverão de contar,

Daquela que é (pra quem tem fé)

Uma genuína santa sem altar.

Sua imensa tumba é adorada

E está sempre iluminada

Com uma luz de vela a tremular.



Não há provas pra testemunhar.

Milagres! Não há, é bem verdade!

Crentes sentem-se agraciados,

Outros falam: - É tudo alarde!

Em Carrumbamba quem não acredita

É perseguido tal qual israelita.

E no inferno pra sempre arde.



E, antes que fosse tarde

E a crença pudesse faltar,

Virou nome de: rua, beco,

Praça e o hospital do lugar.

Ela tem uma força imensa

Triste de quem não tem crença

Na Ungida, santa sem altar.

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