CHICO SOCÓ - Uma lenda verdadeira
Geraldo Bernardo
Ao amigo,
caro leitor
Peço-lhe,
preste atenção.
Vou lhe
contar uma história,
Acontecida neste
sertão.
Terra que amo
com fervor,
Morada de
Nosso Senhor,
Louvado seja
este chão.
Foi nesta
bela região
Que ocorreu
cada episódio
Neste folheto
narrado.
Histórias de
amor e de ódio,
De bravura e estripulia,
De um sujeito
que só sabia
Ser o mais
alto no pódio.
Era forte
como um córneo,
O cabra aqui
retratado.
Quase dois
metros, a altura,
De cor era
meio agalegado.
Falava e
pisava forte,
Dizia não
temer a morte,
E que vivia
desassombrado.
De Socó foi
apelidado,
Por ser muito
bom pescador.
Mas, seu nome
era Francisco
Em honra ao
santo protetor.
Francisco é
nome comum
Pode ser dado
a qualquer um,
E ser
cultuado com louvor.
O saber popular
fez o favor
De cada nome
abreviar.
Quem era Francisco
é Chico,
Tico também
pode chamar,
Outro pode
ser Tiquinho,
Há quem chame
de Chiquinho,
É nome fácil
de apelidar.
De Chico Socó
vou falar.
Com muito orgulho
e admiração.
Pois, conheci
o sertanejo
Num momento
de louvação.
Era uma noite
de cantoria
Na bodega de
minha tia
Quando o
herói fez aparição.
Lembro-me que
na ocasião,
Aconteceu
algo incomum,
Que até
parece mentira.
O leitor
pergunte a qualquer um,
Que possa lhe
confirmar
O que no verso
vou lhe contar
É verdade não
é zunzunzum.
Eu provo os
fatos, um por um -
Dizia Chico,
sempre ao falar.
Foi chegando
com alarde,
À noite,
naquele lugar,
Sem ter sido
convidado,
Por isso veio
bem preparado,
Trazia o que
possas imaginar.
Dinheiro
tinha, pra comprar
O mais que
lhe fosse necessário.
Andava num
carro possante,
Parecia mais
um empresário.
Tinha cachaça
da boa,
Vez por outra
dizia uma loa,
E tirava
graça do otário.
Não ligava
pro horário.
Para ele
tanto fazia,
Daquela vez,
por exemplo,
Ficou três noites,
dois dias.
Contando cada
história,
Que ainda
trago na memória,
Cada bravura
e valentia.
Tanto falava,
como ria.
Tornou-se o
centro das atenções,
Sentado num
tamborete,
Empolgava até
multidões,
Com aquela
sua falação.
Era metido a
valentão
Pela vida,
não dava “dez tões”,
Como se fala
nestes sertões.
Seu nome fora
escolhido,
Com muita
antecedência,
Do seu tempo
de nascido.
Por um bisavô
que foi nobre
E acabou a
vida pobre.
Mas,
sobrenome comprido.
Antes mesmo de
nascido
Já era bem
empregado.
Num emprego bom,
federal,
Que pelo pai
foi arranjado.
Tinha três
meses de idade,
Isso tudo é
bem verdade,
Quando ele
foi nomeado.
Pro cargo de
Delegado.
Função esta
que nunca exerceu.
Cedo começou
a trabalhar,
Conta como
isto se deu:
- Trabalhei
como gerente
De um banco
muito eficiente,
De um
empresário judeu.
Doze anos de
idade, tinha eu,
Tornei-me
agente secreto.
Fui da CIA,
KGB e SNI,
Como sempre
fui esperto,
Conduzi
enormes multidões,
Dei golpes,
fiz revoluções.
Eu sempre
estive alerto.
Profissão? A
que tiver perto.
Respondia, se
perguntavam.
Já fui
maquinista de trem,
No tempo em
que viajavam,
De Mossoró à
Fortaleza,
Vendo o belo
da natureza.
As pessoas
logo chegavam.
Na Estação se
aglomeravam.
Surgia a fumaça
e o apito.
A criançada
era toda euforia,
Achando tudo
muito bonito.
Uma vez, numa
viagem desta.
- É Chico
Socó quem lhes atesta.
Falava alto,
quase grito.
No corpo um...
certo... agito,
Olhos!
Ficavam arregalados.
Quando
contava com fervor
Pros matutos
embasbacados.
A famosa
chuva de feijão.
Acontecida
certa ocasião.
Deixando
todos assombrados.
Alguns
ficavam admirados,
Ouvindo Chico
contar,
Que quando
era tardezinha
O trem já
estava pra chegar
À bela cidade
de Iguatú,
Quando
ocorreu o sururu.
A máquina
teve de parar.
O tempo
começou a fechar,
Ficou escuro
como um breu,
O trem foi
ficando devagar,
Até hoje
ninguém entendeu.
Teve gente
que desmaiou.
Foi o que
Chico Socó contou
Do dia em que
feijão choveu.
Mais de
cincos sacas colheu
Daquele pequenino
grão.
O caroço era bem
branquinho
Porém, um
olho cor de tição.
- Cunzinhadôzim
que só a molesta,
Dava até pra
servir em dia de festa.
Falava cheio
de emoção.
Depois da
chuva de feijão,
No trem
ninguém quis seguir.
Chico e outro
maquinista
Resolveram
prosseguir.
E naquela
mesma noite atroz
Decidiram que
iam até Orós.
Na vaquejada
se divertir.
Saíram
cedinho sem o sol sair.
Chegaram àquela
cidade,
Antes das quinze
horas.
Nas farras da
mocidade
Viviam
buscando aventura
Não temiam
qualquer criatura
Tinham o
vigor da idade.
Foi quando
sem fazer alarde,
Um estranho
barulho surgiu.
Depois cresceu
e agigantou-se.
Não era
trovão, voz ou assobio.
Era rugido de
água e terra
Vindo lá de
trás da serra.
O vento
seguia em rodopio.
Chico não
sentia um arrepio.
Resolveu
então descobrir
Que marmota
era aquela.
Num instante
resolveu subir
Pra ver o que
havia no boqueirão.
Então viu a
água, que em turbilhão
Subia para o
céu até sumir.
O fenômeno
que tava a assistir
Não era coisa
assim tão normal.
Era ação de
um grande arco-íris
Que numa
força descomunal
Bebia a água do
açude inteiro,
Deixando seco
qual um terreiro.
Aquilo causou
assombro total.
O companheiro
passou mal
Fugiu numa enorme
carreira
Chico seguiu
seu destino
Numa vida
aventureira.
Pelos sertões
do nordeste
Tornou-se
cabra da peste.
Uma lenda
verdadeira.
Com ele não
tem besteira.
É sério, não
invento nem minto.
Muito falta para
contar.
Como a
história do pinto
Pilado com
água limpa,
Forma um
caldo supimpa
De um litro
basta o quinto.
Mais amargo
do que absinto
Pra curar é
melhor que nada
Segundo receita
do herói,
Para quem
sofreu facada.
Com a poção
curou mais de mil
Por estas
bandas do Brasil.
E não é coisa
inventada.
Quero contar
ao camarada,
Com a verdade
e clareza,
Como foi que
Chico criou
A raça de boi
holandesa.
Foi um avião
de motor batido
Por este
herói conduzido
Com cuidado e
com destreza.
Quando vinha
de Fortaleza
O motor
morreu num instante,
Mas, como era
destemido,
Planou num
vôo bem rasante
Tingindo de
preto o gado.
Foi este fato
comprovado,
Este folheto
é o comprovante.
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