Foto: Júlio César |
Perfis em
Jornalismo
Cultural
Sandra
Raquew dos Santos Azevêdo, Lívia Maria Dantas Pereira
(Orgs.)
QUEM É
GERALDO BERNARDO?
Fabiano
Ferreira de Sousa
É um
homem que diz ser um matuto beradeiro, que vive no mundo urbano. Escritor e
teatrólogo. Nasceu em uma localidade chamada Logradouro dos Gomes, zona rural
do municio de Sousa, no Sertão paraibano. Passou a ter educação formal somente
a partir dos 12 anos, após a retirada dos documentos pessoais. Vivia muito em
contato com a natureza e com toda a tradição sertaneja: com os vaqueiros, sendo
agricultor, conheceu um mundo onde não havia muita tecnologia, o mundo do
pilão, das modernidades primitivas de sobrevivências no semiárido deixadas
pelos antepassados.
Sua
infância foi marcada pelo trabalho na agricultura. Já aos dez anos de idade
tinha que ajudar os pais nas atividades do campo, para manter o sustento da
família. Teria, então, que conciliar o tempo para estudar e trabalhar ainda
preso à imaturidade da juventude enraizada pelas dificuldades da época. Estudar
seria a esperança de um futuro melhor. No caso de Geraldo, alguns o ajudaram na
escola, mas, de maneira geral, a cidade, o local, o Sertão, uma cultura muito
arraigada, os valores que eram difíceis de transformar e o preconceito foram
fatores que contribuíram para as dificuldades.
Sua
ligação direta com a cultura surgiu na fase da adolescência ainda quando tinha
16 anos, quando passou a escrever sistematicamente,colocando-se como poeta e
também como ator, conforme confidencia: “Isso nasce com a gente; é uma coisa
que alguns que são religiosos dirão que é dom de Deus, outros dirão que, enfim,
alguma coisa acontece que passa além da questão acadêmica, além da questão da
ciência. Então, a inquietude de minha existência primeira, da
primeira infância,processo hoje conhecido como adolescência, porque na minha
época não tinha disso, isso tudo me deu elementos de inquietações...
Inquietações que vêm do ser, que vem do psicológico, que vêm da ontologia do
ser humano.”
Ainda
jovem descobriu que tinha talento. Isso aconteceu por volta de 1979, quando na
Escola Celso Mariz fazia uma leitura da obra de Dias Gomes O Pagador de
Promessas. Geraldo sentia dificuldades na compreensão da escrita, de
parênteses, de travessão, enfim, de pontuação textual. Na dúvida, resolveu
perguntar a professora:
- Professora
o que é isso? Ai então ela respondeu:
- Isso é
teatro, vamos fazer!
A partir
daí surgiu um o GRUTAS (Grupo de Teatro Amador de Sousa), que era um sonho de
adolescentes, de estudantes. Nesse momento percebeu que ali poderia ser e ter
espaço para não ser apenas um menino cabeçudo, orelhudo, matuto, que ninguém
colocava no time, que era escorraçado da turma, que sofria o que hoje
chamamos
de bulling, humilhação e preconceito forte. Ser acuado pela cidade inteira fez
despertar o seu talento. Foi o teatro que lhe deu poder de voz, e inclusive, colocou
seu texto em voz no palco.
O inicio
de carreira foi marcado pelo incentivo dos familiares, uma vez que sua mãe
também faz teatro e seu pai era uma figura que só tinha uma preocupação: que o sujeito trabalhasse. Mesmo assim,
Geraldo ainda sofreu a critica e preconceito por parte de alguns amigos.
Contudo,
o modo em que seus amigos o criticava com atitudes pejorativas, ele encarava a
situação como uma forma de incentivo, e
dessa
maneira conseguiu provar, para uma serie de pessoas que elas estavam com uma
ideologia equivocada.
Vencido
esses obstáculos, deu inicio a sua carreira na literatura e no teatro, fez
vários personagens, parte dos grandes festivais do teatro amador (tanto na
Paraíba como no Nordeste), ganhou vários prêmios como melhor ator e autor. O
personagem principal que marca sua carreira artística, é o Arupemba, um
personagem com o viés literário, que busca resgatar os falares, os costumes do
Semiárido rural que as
pessoas
estão jogando fora e tem vergonha de falar. Com esse personagem, Geraldo rodou
o Nordeste e viajou muito o Brasil.
Chamado
por varias instituições para a abertura de Feiras e Festival de
Rock, o Arupemba já esteve em diversos lugares desse País e teve
participação
em eventos internacionais.
A cultura
lhe proporcionou momentos de liberdade... Liberdade de não ter uma barreira
entre outra pessoa de qualquer natureza; a liberdade de rodar o Brasil e de
fazer com que outras pessoas o conhecessem e o percebesse dentro desse
contexto, a liberdade de uma relação de amizades e articulações pela Paraíba e
por todo o país. Proporcionou o saber falar, pontuar, fazer uma leitura,
escrever, enfim, abriu portas
para
criatividade e o desenvolvimento de várias atividades.
Geraldo é
um artista que aprendeu a viver e vencer, entender e a aceitar as adversidades
do outro, independente da forma como o outro individuo seja, o quanto ao avanço
da progressão intelectual do ser humano, ele afirma: “O que se deve colocar
mais no desenvolvimento é investir no processo da educação, não nessa educação
formal e caduca, que dá raiva do aluno ficar e m sala de aula, que dá sono, que
a mesma lição que o professor me disse está dizendo ao meu filho, todas as
pessoas tem que buscar entender as adversidades, a aceitar o outro independente
da forma de como o outro seja.”
Atualmente,
o paraibano tem desenvolvido vários trabalhos. No palco,
está em
um momento de repouso de personagens para, retomar os personagens com novas histórias.
Já na literatura, vem desenvolvendo uma militância mais forte, e ainda é
produtor do Centro Cultural Banco do Nordeste, produz dois programas de
literatura (o Culto do Leitor toda quinta-feira do mês na biblioteca Inspiração
Nordestina), é colunista em sites da Paraíba, Rio de Janeiro, Alagoas e São
Paulo.
Aliás,
esse é um projeto pessoal, que vem construindo há três anos: ainda em 2013 estará
lançando Jamile: O Especialista em Milagre, que é um livro de contos estará sendo
editado pela Editora Multifoco, do Rio de Janeiro.
Um
artista que já pensou até mesmo em desistir de sua carreira, influenciado pelas
dificuldades enfrentadas ao longo de sua vida, e pela falta de investimentos
por parte das autoridades em investir cada vez mais no campo da cultura, mas
que o ego cultural falou mais alto, a ponto de manter de pé sua capacidade de
produzir e de se contrapor a mesmice.
professor
de História graduado pela UFCG, técnico em contabilidade e ainda foi bancário.
“Pela razão sou agricultor, e hoje penso nas coisas com um pouco de
agricultura, então por isso aprendi a fazer uma serie de coisas”, assim ele
mesmo se define.
Esse é
Geraldo Bernardo, um artista e escritor que diz ser um matuto, mas que na
verdade carrega uma capacidade intelectual gigantesca.
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