Ir no serrote colher barro branco
pra
depois fazer pote e panela.
Tomar
chá de capim santo ou canela
das
touças nascidas no barranco.
Aprender
a ser honesto, leal, justo e franco
compartilhar
e jamais pensar em si só.
Certas
lembranças dão na goela um nó.
Eu
queria ter herdado a sua sabedoria.
Mesmo
que eu gastasse toda poesia
seria
pouco para lembrar a minha vó.
Plantou
o algodão pra fiar e fazer a rede
cultivou
arruda, alho, hortelã e alecrim,
fazia
do mel da rapadura alfenim,
tinha
imagens de santos na parede,
e
fazia limonada pra matar a sede.
Ensinou-me
citando o exemplo de Jó,
que
viemos do pó e voltaremos ao pó,
Era
uma das coisas que mais me dizia.
Mesmo
que se gaste toda poesia
é
muito pouco pra lembrar a minha vó.
Tinha
o leve odor da palha queimada,
do
seu cigarro fininho preso nos lábios.
O
rosto enrugado como dos sábios.
A
sua cabeleira era toda branqueada
com
óleo de coco era bem tratada.
No
meio da marrafa prendia o cocó.
Quem
errava ia no mato cortar um cipó
e
conhecia toda sua metodologia.
Ainda
que eu gastasse toda poesia,
seria
pouco para lembrar a minha vó.
Torrava
café em caco de alguidar.
A
Vigorelli num canto da sala.
Uns
dois ou três vestidos numa mala
e
estava sempre pronta pra ajudar,
o
resguardo das noras, com elas ia ficar.
Fazia
um gostoso pirão de corró.
Comida
ruim ela chamava groló.
Lembro-me
dela quase todo dia
e
nem que eu consumisse toda poesia
era
quase nada para lembrar minha vó.
Vozinha!
Era assim que os netos a chamavam.
Referência
moral em toda região.
Criou
a filharada na maior retidão
e
ao que ela dizia todos respeitavam.
No
São João ou dezembro, se juntavam,
era
fartura: geleia de mocotó,
bolo
de arroz, tapioca e pão de ló.
Plantou-me
na ideia sua filosofia
e
nem se eu tentar escrever toda poesia
ainda
será pouco pra lembrar minha vó.
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Nossa! Muito lindo, eu lia como se estivesce vendo a vozinha na minha frente.
Muito Obrigado.
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Obrigado!