BONITO É SE LHE PARECE

 

por

Geraldo Bernardo

Deus, Nos’senhor,

tem no mundo, seu terreiro,

seres de muito jeito, do jacaré até a flor.

Alguns com muita formosura,

alinhados e bem faceiros,

outros, coitados, só de olhar dá gastura.

Por acaso do destino, quis João Timbú, desde menino,

feio do jeito que era, namorar moça formosa,

 bonita e rubeculosa, a filha de Manuela.

Dadinha ela se chamava,

porém seu nome era Edinalva,

tinha os cabelos mais pretos,

que a crina da égua de Dona Edjenalda,

os olhos puxados nos cantos,

com aquela cor trigueira,

era a menina um encanto,

parecia uma indiazinha faceira,

sempre se via bem arrumada,

botava roupa elegante, já na segunda feira.

Timbú, vivia malamanhado,

tinha umas venta de boi, os olhos abuticados,

o cabelo era tão ruim que

parecia ninho de rolinha,

amava Dadinha calado.

Sofria grande dor pois, sabia,

aquela pequenina era de grande esplendor,

ele se sentia,  coitado, incapaz de declarar seu amor.

Desde menino, quando a brincadeira começava,

bastava Dadinha estar pelo meio, ele observava,

como quem não queria nada, na inocência de menino,

ficava rodeando, como quem tomava conta,

depois seguia feliz,

quando a brincadeira acabava,

pegava os chinelos de Dadinha e a levava para casa.

O tempo passou, Timbú sempre desconfiado,

era campeão de bandeira e bila.

Dadinha dando de crescer o corpo,

o amor de Timbú, ela  notava!

Brincava com seus sentimentos dele,

obrigando Timbú, fazer de um tudo pra ela,

de levar recado a botar água,

pilar o milho e torrar o café,

depois o humilhava.

No entanto ele voltava e fazia tudo novamente,

bastava ela dar-lhe uma piscadela,

alisar-lhe o cabelo, rebolar maliciosa,

era a criatura mais venenosa,

leviana e vaidosa,

ele porém a achava, linda graciosa,

a mais perfeita donzela,

brincavam de cair no poço,

era quando Timbú escapulia,

pois naquele coração moço, sentia,

uma facada danada quando Dadinha

caía e a outro ela beijava.

Quando era noite de fogueira,

mês de Maria toda faceira,

Dadinha parecia um tesouro,

não carecia perfume de loja,

tampouco viver coberta de ouro,

seu vestido de chita, cintado bem na cintura,

mostrava a todo mundo, o tamanho da criatura,

mesmo sem usar loção,

seu cheiro era tamanho que Timbú sentia tontura.

Timbú era soltador de fogos,

tinha no ramo desenvoltura,

no coração porém, grande pena,

era triste saber que amava uma moça impura

Era o que todos diziam:

- Depois da novena,

namora o primeiro que lhe passar

a mão na cintura.

- Homem! Saia dessa, procure outra

que lhe queira, essa aí é uma fuleira.

O coitado porém, nutria um amor desmedido,

tinha uma fé pia, um dia Dadinha lhe amaria.

Como nas tortas linhas da Criação,

o caminho é sempre espinhoso,

achou Dadinha de arranjar um esposo.

Gente de fora do lugarejo!

Timbú partiu para o Sul,

por desgosto e precisão,

aprendeu a ser operário padrão,

ganhou dinheiro e confiança do patrão,

fez filhos e comprou carro,

voltou com festa, toca-fitas e óculos ray-ban.

Homem de posses, botou comércio,

entrou pra política, foi ser prefeito.

Dadinha ficou banguela,

uma penca de filhos para criar

e ser guia da cega Manuela.

Porém, vez por outra Timbú

sente uma pontada na espinha,

quando Dadinha lhe dá aquela piscadela.

Pensa! Quanto Dadinha machucou-lhe o coração

e lembra que das voltas que o mundo dar,

melhor é se colocar na outra situação,

quem julga aparência e aposta na vaidade,

pode um dia viver uma grande decepção.