Poesias, crônicas, contos e dramaturgia escritas por: Geraldo Bernardo, tendo como cenário o sertão, seus personagens e mitos.


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O ARRAIAL DE LUIZINHA

Escrito por : Geraldo Bernardo em terça-feira, 8 de março de 2011 | 11:37 PM



Por Geraldo Bernardo

Luizinha era uma bichinha,
(bichinha...) conhecida na cidade,
nos tempos da mocidade
foi mais uma galega donzela,
mesmo tendo Deus reservado para ela,
o hormônio testosterona
que fez da maturidade de Luizinha
uma gorda bichona.
Naquela sua aposentadoria à força,
tinha a barriga inchada,
pelo mal da cirrose,
mesmo assim vez em quando tomava uma dose
de conhaque com limão, para limpar o pulmão
de uma vida de nicotina,
o coração era como o de uma menina.
A boca de prostituta.
Fazia da arte da cozinha mantinha sua labuta,
era cozinheiro de festa. Estava escrito em sua testa
que conhecia do oficio.
Quando era dia de comício, ficava toda espevitada,
servindo pratos para a matutada,
era tanto arroz, laranja e feijoada
que quando dava tardezinha a bicha
estava toda escambichada.
Num ano desses aí, quando a grana tava pouca,
a prestação atrasada, a luz para ser cortada,
sem dinheiro para a maquiagem,
a bicha quase descabelada,
teve uma idéia boa danada.
Preparou debaixo de uma latada,
um pote enrolado no pano, um litro e meio de Cinzano,
um lombo de porco fritado e ali do lado encostado
um engradado de cerveja.
Chamou Zé Nascimento pra peleja
de tocar durante um mês.
Arrumou para a cozinha meia dúzia de rodilha,
convenceu todas as famílias a deixarem os filhos dançar,
e, em menos de quinze dias
estava formada a quadrilha.
Pendurada numa forquilha,
um monte de fita colorida.
Com muita preparação e uma propaganda danada,
era numa noite  inaugurada a festa no pavilhão.
Logo no primeiro dia, estava tudo estava nos trinques:
carne assada na brasa, milho cozido, canjica e pamonha,
abacaxi vendido pela velha Tonha
e o torresmo acompanhava os drinques.
Menino era mesmo bonita,
aquela festa cheia de chita,
fogos e foguetões que faziam lembrar canhões,
e ainda ficava mais bonita
quando o vento frio balançava
aquele montão de fitas.
Ouvindo o ronco da sanfona
as meninas ficavam ainda mais enxeridas,
dançavam como pião, girando no meio do salão,
chega dava um palpitar no coração.
Porém, Chico de Bastião
que já tinha tomado um bocado de Pitu,
ficou com os olhos trocados,
o suvaco todo suado e o juízo arrevirado.
Chamou Dinha de Manú para dançar baião,
E a mocinha lhe passou tábua,
foi aí que o cabra se distanciou do salão,
procurou no escuro do oitão
uma pedra de amolar, ali mesmo começou a afiar
uma doze polegadas e disse, pra todo mundo ouvir,
que mostrava como cortava
o cabelo de Dinha. Pois, não é que aquela mocinha,
tinha lhe tratado mal e ele tinha que mostrar,
para toda a população,
ali no meio do salão, o quanto valia um homem.
Que aquela falta de consideração
só podia ser paga pela força da tradição,
ia cortar de faca o cabelo daquela cabrita.
Ouvindo aquele sururu, Luizinha interviu aflita:
-          Olhe aqui Chico de Bastião, deixe de ser metido a valentão,
que eu sei que tu é chibungo, espie que eu digo, pra todo mundo
o que houve entre você e Raimundo naquele banho de rio.
Vá! Chispe daqui, deixe a faca vá embora, eu confio.
Não olhe nem de lado, senão eu conto que Fransquinho
também foi seu namorado.
Quando falou estas palavras Chico de Bastião,
que era um cabra moreno, arriou da valentia,
só vendo, como o negro desmunhecou,
todo mundo se espantou,
com a brabeza da bicha e o desmunhecar do machão.
E foi nessa noite, quando quase ia raiar o dia
que Chico de Bastião,  começou a declarar,
aquele segredo guardado desde menino,
o povo todo assistindo,
se mostrando muito abismado,
pois até aquele dia, o safado não se mostrava mofino,
porém trazia no destino
ser um cabra afeminado. Pois, ali no chão ajoelhado,
chorava que dava pena, a coitada da morena
que lhe passou a tábua estava envergonhada,
de ser o pivô daquele jocoso momento,
pois Chicola, quando já passou a ser chamado,
chorava triste coitado, com as palavras cortadas:
-          Luizinha sua bicha safada, você acabou comigo,
tem nada não, Deus vai lhe dar um castigo,
seu bucho vai estourar pelo um umbigo.
O que vai ser de mim agora, quando lá em casa souber,
que eu nasci quase uma mulher.
E naquele rapa-pé, o arraial foi se acabando,
ficou Chicola chorando e Luizinha do lado,
com um prato de caldo bem preparado,
pra curar aquele porre, vez ainda em quando dizia:
- Desespere não, todo machão tem dentro de si,
uma bicha que nunca morre.
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