MONGA,
A MULHER-MACACO.
Na seca de setenta, se criou a
emergência,
foi uma maneira de tirar o povo da indigência.
O governo botou a cabroeira para
trabalhar,
tinha gente de todo lugar, procurando
se alistar.
João Caco que era feitor, alistou uma turma de
eleitor e,
achando ainda pouco, aproveitou para também
alistar,
os bichos de sua criação:
a vaquinha mimosa, um jumento,
uma cabrita e até o porco de Bastião.
O certo é que mulher, menino e
defunto,
tava todo mundo junto.
Quem alistava era os coroné,
que
ficava com o dinheiro
e servia feira para os mané,
teve
gente que ficou rico!
Oxente! Valdemar de Eurico,
construiu um açude
enorme,
nas terras de Seu Cosme foi feita
tanta benfeitoria
que só para contar ia levar mais de três
dias.
Para pegar um pouquinho do dinheiro do
governo,
de tudo começou aparecer,
nas “Frentes de Emergência” de tudo
tinha para vender,
água de cheiro para os soldados se
perfumar,
lenço de seda para os coroné do lugar.
Muita chita e muito fustão,
pra fazer
roupa pros cabras da região,
até mesmo a margarina, ainda pouco
conhecida,
era vendida como manteiga da mais
fina.
Agora o que causou maior rebuliço,
foi
uma bendita atração.
O Gran Circo Alemão que acampou na
Estação.
A partir da sexta-feira, começava a latumia,
num carro velho todo em engenbrado e na maior gritaria,
um cabra com a cara pintada,
dava conta do recado, berrando por
todo lado:
-
Venham
assistir, a maior novidade do planeta,
o Circo Chegou, tem globo da morte,
malabarista, dançarinas, mágicos e a maior atração Monga a mulher que vira
macaco, você não pode perder, gozadíssimos palhaços que fazem todo mundo rir.
Pedro Juvino, cabra
muito do arretado,
preparou-se para no
domingo ir assistir a novidade,
e disse que era abestado
quem
não fosse ver aquela diversão,
quando chegou no
domingo,
numa carroceria de caminhão,
juntou-se uma comitiva
de matutos
em direção a cidade para assistir a
novidade,
tomar umas e outras e fazer estripulias,
saíram cedo do dia, de
cabelo bem penteado,
castigado na
brilhantina, calça boca de sino,
camisa de “Voltumundo, homem rapaz e menino, pente flamengo no bolso,
espelho com mulher nua,
mais animados que
mosquitos em cu de cachorro,
subiram e desceram morro
e,
até que enfim foram entrando na rua,
como ainda era cedo, ficaram tomando umas
canas,
fazendo planos pra
semana, sempre andando junto,
parecia até enterro de
defunto,
aquele magote de gente
caminhando na mesma
direção, entraram no Casarão,
que antigamente foi, um
bordel da estação
e quando fez oito horas
em ponto,
estava todo mundo pronto,
de ingresso na mão para
assistir o circo.
Tinha nego já meio
bêbado, quem não bebia
chupava picolé ou era
abacaxi que comia .
E, então, começou o
espetáculo,
um cabra bem arrumado ia
anunciando as atrações,
o circo lotado, todo
mundo muito apertado
se acotovelava na
arquibancada,
na frente ficava a
meninada,
as mocinhas comendo pipoca
e a matutada babando com
as artimanhas do mágico
e as pernas das
dançarinas.
Antonio de Izaltina
assobiava, sentava e levantava,
parecia nunca ter visto,
coisa no mundo mais bonita,
e era tanto artista,
tinha palhaço e malabarista,
foi quando chegou o
momento do circo mais esperado,o tal do anunciador fez
aquele rapapé,
pediu silêncio a
platéia, disse:
-
O
que vocês vão ver agora é uma mulher,
porém, coitada, com ela a natureza foi malvada,
nasceu com uma certa sina e a pobre desde menina,
vive nesta maldição, mesmo sendo uma mulher bonita
se transforma em um macaco peludão.
Todo mundo ficou de pé
para assistir a apresentação,
as luzes foram mudando,
uma mulher muito coxuda,
apareceu se rebolando,
a música foi aumentando
e logo em dois minutos
era um macaco que estava
naquela jaula gritando,
tentando se libertar das
barras de ferro,
os matutos, de olhos
abuticados,
pensavam que aquilo era o inferno. O locutor
gritava:
-
Monga
não faça isto, não saia daí.
Monga não se enfureça, por favor não perca a cabeça.
De nada adiantou, o
macaco arrebentou o cadeado,
saiu de dentro da jaula.
foi uma correria danada,
gente pra todo lado, uma
gritaria infernal,
aí não deu outra, Pedro
Juvino chamou Juscelino
e partiu pra cima da
fera,
os outros cabras foram
ajudar, e foi tanto do tabefe,
pescoção, azunhada, mordida e beliscão
que a tal da Monga
correu em busca da rua,
foi então que piorou a
situação
os cabras perceberam a
enrolação,
viram que o macaco era
um negrão,
vestido numa fantasia.
Menino! O pau comeu no
centro,
só parou quando chegou o
delegado na famosa Amada Amante,
mais já era tarde, a
lona do circo tava rasgada,
a arquibancada quebrada,
e na estrada empoeirada
só se ouvia o ronco do caminhão,
desse dia em
diante,
não houve mais quem
botasse circo na estação.