Nasci
lá, num sovaco de serra
Conhecido
como Logradouro.
Nascer
ali pra mim foi um tesouro.
Aprendi
desde cedo lavrar a terra
Alegrar-se
com o bezerro que berra.
Onde
nossos nativos viveram um dia
Antes
da invasão e de virar sesmaria
Nas
mãos de assassinos portugueses
Gananciosos
criadores de reses
Que
vieram trazendo sua escravaria.
Sou
fruto do sertão paraibano
Sobrevivente
e miscigenado.
Primogênito
de pai explorado
Pela
meia da colheita a cada ano.
Minha
mãe era quem costurava o pano
Da
rica roupa do esnobe patrão
Comprado
com o ganho da exploração.
As
mãos de meu pai eram fartas em calo
Mas,
o coronel vivia no regalo
Usufruindo
da riqueza do algodão.
Meu
pai nunca foi alfabetizado
Mas,
tinha noção do seu direito.
Vivia
mudando-se de eito em eito.
Nunca
foi um sujeito acomodado
Trabalhava
de sol a sol no alugado;
Fazia
tijolos, queimava caieira
Mas,
sempre acabava em bebedeira.
O
refúgio de negros, pobres ou nobres
Que,
sem rima, sem métricas e cobres
Os
iguala uma pinga de primeira.
Quando
menino perambulei
Pela:
Varjota, Caiçara e Estreito
Não
havia doce picolé ou confeito;
Na
Malhada Grande quase afoguei
E
de novo ao Logradouro voltei.
De
brincadeira só enxada tinha
E
meu lanche era um pirão de farinha.
Meu
pai e minha mãe doze geraram
Inanição
e sarampo seis levaram
pra
cova rasa como madrinha.
Relato,
talvez, uma poesia amarga
Ao
falar de meu tempo de criança.
Só
quero ser honesto com a lembrança
E
nem desejo maldizer esta carga.
Pois,
a miséria que vivi mais alarga
O
meu jeito de na vida proceder.
Pois,
aprendi que na essência não é só o ter
Que
o mesmo sem luta não tem valor.
Pois,
se sou artista, poeta e lutador
Foi
a estrada a maior lição do meu viver.
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