Poesias, crônicas, contos e dramaturgia escritas por: Geraldo Bernardo, tendo como cenário o sertão, seus personagens e mitos.


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O PERU DE NATAL

Escrito por : Geraldo Bernardo em domingo, 31 de dezembro de 2017 | 4:11 AM



Seu Júlio tinha fama
no bairro onde morava.
De tudo ele cuidava:
de buraco de lama;
e, ainda esquentava a cama
de uma solitária qualquer.
A coitada de sua mulher
já estava acostumada
vivia sendo chifrada
mas dizia: - É a mim que ele quer.

Morador muito antigo
daquela localidade,
bairro famoso da cidade,
dizia-se grande amigo
e pronto para dar abrigo
a qualquer pessoa carente.
Assim, virou presidente
da Liga de Moradores.
Fazia muitos favores
e adorava ditadores.

Um ano, véspera de eleição,
teve uma ideia original.
Fez grande ceia de Natal
para anunciar a decisão
em colocar-se a disposição
seu nome pra vereador.
Antes de perguntar ao eleitor
quis conquistar o partido.
E, como havia decidido,
só convidava apoiador.

Veio o prefeito do lugar,
de gravata laranja,
esbanjando sua franja.
Também o chefe militar
e o juiz não podiam faltar.
O deputado corrupto,
trouxe um capanga bruto
e um radialista babão.
E para mostrar devoção,
um padre para abençoar.

Mesa posta, hora do jantar.
Um enorme peru assado
apetitoso e dourado,
atavio da mesa ovalar.
Cada qual quer comentar
do naco que se serviu.
O juiz, diz, mordendo o pernil:
- Vigoroso como a lei.
Foi quando Valter Dysney
No meio da história surgiu.

Era unigênito, Dysneyzinho,
com as mãos em concha na boca
ria, um risinho de voz rouca:
qui, qui, qui... baixinho.
Seu Júlio olhou de ladinho.
A secretária do partido
Vestia micro vestido
deitou-se sobre a mesa
e disse ter certeza:
o melhor peru comido.

O padre empedernido
comenta: quem come asa,
não se cansa e nem atrasa.
Dysneyzinho, divertido,
com seu riso contido
qui, qui, qui cá, cá, cá, cá;
Seu Júlio olha pra lá e pra cá;
a mãe cutuca o garoto
e ele continua maroto:
Qui, qui, qui cá, cá, cá, cá.

O deputado comilão
abarrotou o prato e falou:
- Namorador como sou
não posso perder ocasião
e como manda a tradição
vou comer este sobrecu
com uma dose de pitu.
Disse na gargalhada
e com sua faca afiada
cortou um naco de peru.

Dysneyzinho não suportou
riu desbragadamente
ecoando em todo ambiente.
Seu Júlio já se enfezou,
ríspido, ao filho perguntou:
- Diga logo, o que tens tu?
Quer provocar um sururu?
E ele respondeu mangando
- Quantas vezes, tô lembrando,
que comi o cu deste peru.




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