Poesias, crônicas, contos e dramaturgia escritas por: Geraldo Bernardo, tendo como cenário o sertão, seus personagens e mitos.


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O BACULEJO NA BACURINHA!

Escrito por : Geraldo Bernardo em sábado, 24 de setembro de 2011 | 6:28 AM


 
Geraldo Bernardo

Seu doutor de faculdade,
Que da ciência faz alarde
Que vive lendo manuais,
Que estuda toda parte
Deste nosso corpo humano.
Peço-lhe, hoje, um aparte.

Vou dizer com minha arte
Como ser curador no sertão,
Como é cuidar de um doente
Na hora de maior precisão.
Entender a enfermidade
E receitar com retidão.

Basta, doutor, ouvir com atenção
O que agora vou lhe falar.
Não fique aí, desapontado,
Também não vá se espantar.
Pois, a doença de nossa gente
Tem tratamento peculiar,

Com garrafada ou mesmo chá.
Em qualquer terreiro encontra
Alfavaca ou fedegoso
Ervas das quais se apronta
Remédio para mulheres,
De graça. Pois, não há conta,

E farmacêutico não monta
Balcão no verde do vergel.
Macela pra bucho inchado,
Pra ficar imune tome mel.
A banha do tejuguaçu,
Que, no sertão, tem a granel,

É rançosa e fede como fel,
Porém, cura amigdalite.
O mangará da banana
Serve pra curar a gripe
Tira o catarro do peito,
O doutor ouça e acredite.

Mastruz combate gastrite,
Com leite se faz a receita.
Com o mijo da vaca preta,
Bebido em jejum, se ajeita,
Remédio pra coqueluche.
Quinaquina é pra maleita.

Sei de homem e mulher feita
Que no mato escapou
Com folha, casca de pau ou raiz.
Da papeira meu pai curou,
E ela já tinha “descido”
No curral ele se agachou.

Na porteira, mugiu e ciscou,
Jogando estrume pra trás,
Com medo que a caxumba
O tivesse deixado incapaz.
Duro foi curar Titica,
Viúva de Seu Pedro Morais.

A doença, ninguém sabia mais.
Todo mês aquela dor vinha,
Na passagem da lua cheia.
Não se sabia o mal que tinha
E se alguém lhe perguntava:
- Baculejo na bacorinha!

Vivia naquela morrinha,
Dona Titica, a coitada.
Quando apareceu Ronaldo
Perdido pela estrada
E pediu rancho a enferma
Numa noite enluarada.

Apeou-se, e, na madrugada,
Começou aquela gritaria.
E ele, que era curandeiro,
Andante sem companhia,
Entendeu num instante
De que mal a viúva sofria.

Como era tempo de invernia
Colheu um pé de fedegoso,
No terreiro da tapera,
Fez um chá muito amargoso,
Titica tomou e ficou boa,
Com o chá miraculoso.

Partiu, com ar misterioso.
Deixando com a vizinha
A tal receita milagrosa.
Sem saber a doença que tinha,
A viúva, ainda hoje, responde:
- Baculejo na bacorinha.
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+ comentários + 1 comentários

26/09/2011, 09:27

Parabéns meu jovem amigo Arupemba.

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